O momento atual em Portugal reflete muitas das preocupações globais ou pelo menos, as preocupações da falência do atual modelo europeu e ao qual não estamos imunes (leva é um pouco de mais tempo a cá chegar!). A desigualdade social e a riqueza são uma questão premente, especialmente à luz da crescente pressão sobre as democracias liberais. Os movimentos populistas tanto à direita quanto à esquerda têm encontrado eco dentro do país, embora em escalas diferentes comparadas a outras nações da “esfera dita ocidental”.
A referência aos populismos de direita em diversos países pode ser relacionada ao surgimento de movimentos políticos semelhantes em solo português. A preocupação com a polarização política e a pressão sobre as democracias liberais alerta para a importância de uma abordagem equilibrada e inclusiva no cenário político nacional.
Há também um reconhecimento de que a complacência não é mais uma opção. Portugal enfrenta desafios que não podem ser ignorados, desde crises económicas até ameaças ambientais. Existe a necessidade urgente de ação decisiva, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional, para evitar cenários sombrios.
O apelo para que Portugal não ignore os desafios iminentes, sob pena de repetir erros passados, ressoa com a necessidade de uma atenção urgente para questões como alterações económicas, das relações laborais, mudanças climáticas, crises financeiras e desigualdades. Isso pode traduzir-se em apelos por políticas sustentáveis, medidas económicas responsáveis e esforços para combater a exclusão social.
No entanto, o país também enfrenta obstáculos internos na implementação de políticas eficazes para lidar com esses desafios. Embora um futuro mais otimista seja desejável, uma análise realista indica que o caminho que temos pela frente pode ser turbulento, com implicações para o emprego, economia e paz interna (populismos) e externa (Ucrânia, NATO…).
Apesar da frase feita — de que em Portugal vivemos sempre em crise — crise económica, social, financeira, política, geracional, educacional…., no entanto, que eu me lembre (talvez nos idos de 1975), não tenhamos tido, nestes 50 anos de democracia, um problema tão crucial na política portuguesa: o agravamento da desigualdade social e a desvalorização da dignidade do trabalho. Estes são sintomas de uma sociedade onde largas camadas da população se sentem marginalizadas e desempoderadas. Quando as pessoas se percebem como excluídas e descartadas, surgem sentimentos de rancor e raiva, criando um terreno fértil para demagogos e populistas. As pessoas, sentindo-se descartadas, representam um terreno fértil para o surgimento de lideranças demagógicas e populistas. Não é de estranhar, muito à semelhança do que aconteceu nos anos trinta, do século passado, que observamos movimentos e figuras políticas que capitalizam esse descontentamento, explorando a raiva e o rancor gerados pela sensação de impotência.
Em Portugal, vemos claramente os efeitos desse fenómeno. O aumento da desigualdade social, aliado a políticas económicas que nem sempre privilegiam a proteção dos direitos e interesses dos trabalhadores, contribui para um clima de insatisfação e descontentamento. Os baixos salários, a precariedade laboral e a falta de oportunidades para as camadas mais vulneráveis da população alimentam um sentimento de exclusão e desesperança.
Em Portugal, o persistente desafio da desigualdade social não apenas mina a coesão social, mas também corroí a confiança nas instituições democráticas. O aumento da disparidade económica e a perceção de que certos estratos da sociedade são negligenciados alimentam um sentimento de exclusão e desamparo. O resultado desse fenómeno é uma sociedade propensa à manifestação de ressentimento e indignação.
Neste contexto, é fundamental que os líderes políticos reconheçam e enfrentem essas questões de frente. A resposta não pode ser apenas retórica, mas sim a implementação de políticas concretas e eficazes que promovam a inclusão social, valorizem o trabalho digno e combatam a desigualdade. Isso requer um compromisso genuíno com a justiça social e a proteção dos direitos humanos, além de uma abordagem colaborativa que envolva a sociedade civil e os diversos setores da economia. É vital que as instituições políticas reconheçam a importância de restaurar a confiança nas estruturas democráticas, procurando uma governação mais transparente e responsiva às necessidades da população.
A política em Portugal enfrenta o desafio de recuperar a confiança e a esperança das pessoas, oferecendo soluções tangíveis para os problemas enfrentados pela população. Ignorar ou minimizar essas questões só servirá para alimentar o ressentimento e fortalecer os populismos que procuram capitalizar o descontentamento popular. O momento exige liderança corajosa e comprometida com o bem-estar de todos os cidadãos, garantindo que ninguém seja deixado para trás no caminho rumo ao progresso e à justiça social. Portugal não está imune aos desafios delineados neste texto. Portugal enfrenta o desafio de reconstruir um contrato social que assegure a dignidade, a inclusão e a participação efetiva de todos os cidadãos. O país enfrenta uma encruzilhada que exige liderança e cooperação para evitar um desfecho distópico.
Albardeiro