No âmbito do Seminário FOLEG 2024, sob o tema “LIDERAR ESTUDOS GLOBAIS”, tivemos a oportunidade de explorar o impacto da inteligência artificial (IA) na investigação colaborativa e o papel transformador da extensão universitária como um motor de desenvolvimento social. Este fórum sublinhou a importância da sinergia entre a academia e o contexto local, visando uma investigação que transcenda a teoria e gere mudanças concretas e significativas na sociedade. A união entre a academia e o contexto local é essencial para criar uma investigação que não apenas avance teoricamente, mas que também produza mudanças concretas e significativas na sociedade. Neste sentido, a Universidade Aberta e o Centro de Estudos Globais (CEG) têm dado passos importantes ao aproximar a investigação da prática, promovendo parcerias estratégicas com atores locais e impulsionando a troca de saberes entre investigadores e a sociedade.
"Como Investigar em Equipa na Era da Inteligência Artificial"
A revolução trazida pela inteligência artificial (IA) está a transformar profundamente as dinâmicas de colaboração e investigação numa variedade de setores, afetando desde a ciência até as ciências sociais e empresariais. A utilização de recursos de IA em equipas de investigação oferece novas oportunidades de inovação, permitindo analisar grandes volumes de dados, gerar hipóteses automaticamente e acelerar o ritmo das descobertas. Ao mesmo tempo, essa integração não é isenta de desafios significativos, exigindo uma reavaliação de como as equipas trabalham, comunicam e tomam decisões.
Historicamente, o trabalho em equipa baseava-se em interações humanas, onde competências complementares e especializações eram compartilhadas para resolver problemas complexos. Hoje, com a introdução de IA, essa dinâmica evolui. Recursos de inteligência artificial podem processar informações de maneira mais rápida e eficiente do que qualquer humano, além de conseguirem identificar padrões e fornecer insights que, por vezes, passam despercebidos. Este novo cenário abre portas para equipas de investigação alcançarem resultados mais precisos e em menos tempo, aumentando significativamente a produtividade. Contudo, o verdadeiro valor da IA não está em substituir os humanos, mas em aumentar as capacidades de uma equipa, oferecendo uma parceria complementar entre a capacidade computacional e o raciocínio humano.
Entretanto, a adoção da IA nas equipas de investigação levanta uma série de questões fundamentais. Em primeiro lugar, as metodologias de trabalho precisam ser ajustadas para acomodar a participação da IA. Recursos tecnológicos devem ser integrados de forma coesa aos processos de investigação, sem desvalorizar as competências críticas humanas, como a capacidade de interpretação, análise contextual e tomada de decisões éticas. O sucesso dessa integração dependerá da capacidade dos profissionais em equilibrar as contribuições da IA com as suas próprias, garantindo que a máquina não seja apenas uma ferramenta de execução, mas também um suporte estratégico que enriqueça a análise e a interpretação dos dados.
Além disso, a redefinição dos papéis dentro da equipa é inevitável. À medida que a IA assume tarefas rotineiras ou de processamento intensivo, os investigadores podem concentrar-se em atividades de maior valor, como a formulação de hipóteses, a criação de estratégias inovadoras e a avaliação crítica dos resultados obtidos. No entanto, isso também significa que as equipas precisam desenvolver novas competências técnicas, incluindo o entendimento básico sobre o funcionamento dos recursos de IA, para garantir uma utilização eficaz e crítica destas tecnologias.
Outro ponto crítico que deve ser discutido é o impacto ético da IA na investigação em equipa. A automação e o uso massivo de algoritmos levantam questões sobre transparência, viés algorítmico e a responsabilidade dos resultados gerados. A ética torna-se ainda mais relevante quando se trata de decidir até que ponto os resultados sugeridos pela IA podem ou devem ser adotados, especialmente em áreas sensíveis como a saúde, as ciências sociais e a política pública. Garantir que a IA opere de forma justa e transparente, e que a tomada de decisões finais permaneça nas mãos dos humanos, é um desafio que precisa ser constantemente monitorizado.
No contexto de comunicação e gestão de equipas, a IA também impõe mudanças. O trabalho colaborativo em equipa sempre exigiu uma comunicação eficaz e o estabelecimento de papéis bem definidos. Agora, a IA torna-se parte desse processo, não apenas como uma ferramenta técnica, mas como um "membro" que influencia diretamente a forma como as decisões são tomadas e os problemas são resolvidos. Isso implica a necessidade de uma comunicação clara entre os membros humanos da equipa sobre como interpretar os resultados gerados pela IA e, mais importante, como utilizar esses resultados para fundamentar as decisões de forma estratégica e ética.
Nesse sentido, o papel do líder de equipa torna-se ainda mais importante. Além das tradicionais funções de gestão e motivação, o líder agora precisa atuar como um facilitador da integração tecnológica, assegurando que a IA seja utilizada de maneira responsável e que o equilíbrio entre tecnologia e raciocínio humano, seja mantido. O líder deve ser capaz de reconhecer quando é adequado confiar na análise da IA e quando é necessário aplicar a intuição e experiência humanas.
Por fim, a IA pode transformar a forma como o conhecimento é gerado e partilhado dentro de equipas de investigação. Ao facilitar o acesso a grandes volumes de dados e insights complexos, a IA pode ajudar a democratizar a criação de conhecimento, permitindo que investigadores de diferentes áreas colaborem de forma mais ágil e produtiva. No entanto, essa abundância de informação também coloca desafios, como a necessidade de garantir que os dados sejam utilizados de forma ética e que os resultados gerados sejam compreensíveis e acionáveis para toda a equipa.
Neste seminário, explorámos como as equipas podem maximizar o potencial da IA para melhorar a colaboração, acelerar a inovação e alcançar resultados mais eficientes e precisos. Ao mesmo tempo, foram abordados os desafios inevitáveis dessa integração, como a divisão de trabalho entre humanos e máquinas, o impacto sobre a comunicação dentro das equipas e o papel transformador da liderança. Mais importante ainda, discutiu-se como a IA está a moldar o futuro da investigação, influenciando não só o modo como investigamos, mas também como construímos e partilhamos conhecimento.
A Relevância da Extensão Universitária como Ferramenta de Transformação Social.
Historicamente, as universidades desempenham um papel essencial na geração de conhecimento e na formação de profissionais qualificados. Mas, no século XXI, espera-se que as instituições de ensino superior também promovam o desenvolvimento social e económico das regiões onde atuam. A extensão universitária surge, assim, como um pilar estratégico indispensável, ao aproximar a academia das necessidades concretas do território e da sociedade. Mais do que uma função secundária, a extensão universitária deve ser integrada à missão institucional, promovendo uma universidade comprometida com a inclusão social, a sustentabilidade e a inovação.
No século XXI, a missão das universidades ultrapassa a simples disseminação de conhecimento técnico. A extensão universitária emerge como um pilar estratégico indispensável, com o propósito de desenvolver uma universidade comprometida, não apenas com a formação de profissionais, mas também com a construção de cidadãos conscientes, solidários e socialmente responsáveis.
A extensão universitária — entendida como a capacidade das universidades de aplicar o saber em benefício direto da sociedade — representa uma poderosa ferramenta de transformação social. Este conceito ultrapassa a dimensão cultural, propondo uma universidade ativamente envolvida com as necessidades do seu território e comprometida com a agenda global do desenvolvimento sustentável. Não basta que a extensão universitária seja uma missão acessória das universidades; pelo contrário, deve ser uma prioridade, plenamente integrada na estratégia de especialização inteligente de cada instituição, tal como tenho defendido em vários textos e intervenções públicas.
Na Universidade Aberta, o conceito de extensão é implementado por meio de projetos como os Centros Locais de Aprendizagem (CLAs), que facilitam o acesso da comunidade aos espaços universitários e promovem a colaboração com autarquias e instituições locais. Essas iniciativas possibilitam que a universidade contribua para a transformação do seu entorno, aplicando o saber académico em projetos que geram valor direto para a sociedade, além de promover o empreendedorismo e a inovação. Esses programas de extensão são fundamentais para que a universidade se posicione como um agente de mudança, não apenas formando profissionais capacitados, mas cidadãos conscientes, solidários e socialmente responsáveis.
A extensão universitária reforça o compromisso das universidades com a sociedade, aplicando o conhecimento académico para enfrentar desafios locais e promover o desenvolvimento sustentável. A Universidade Aberta, por meio de projetos como os Centros Locais de Aprendizagem, ilustra o impacto positivo que a academia pode ter na construção de uma sociedade mais inclusiva e solidária.
O Seminário FOLEG 2024 representou uma oportunidade de refletir sobre a aplicação da metodologia de investigação nas áreas científicas do CEG, sobre Como investigar em Equipa num Global e Digital, sobre o papel da inteligência artificial, e com acrescento da minha parte, ainda sobre a extensão universitária como alavanca para uma academia mais integrada, ética e socialmente responsável.
Neste Seminário, os participantes foram incentivados a explorar como maximizar os vetores que fazem parte do ofício do investigador, ao mesmo tempo, em que se refletiu sobre os desafios éticos e metodológicos de novos recursos. Através da partilha de experiências e boas práticas, esperamos fortalecer o compromisso dos investigadores com uma investigação que não só inova, mas também constrói pontes entre o conhecimento e a sociedade, alinhando-se à missão de uma universidade comprometida com o desenvolvimento humano e social no século XXI.
Domingos Caeiro
(Ponte Lima — FOLEG2024 — novembro)