No artigo A crise e a política, publicado no jornal Público (29/12/08), o politólogo Pedro Magalhães considera que, pelo menos a curto prazo, as consequências políticas da crise internacional são boas notícias para muitos governos europeus que estavam em acentuada crise de popularidade e que recebem assim um balão de oxigénio. Com efeito, para este autor, a situação que actualmente se vive, vem neutralizar os mecanismos de responsabilização dos governos pelo seu desempenho, limitar o espaço de contestação política e diminuir as possibilidades de alternância. Cita, para o efeito, as recentes sondagens feitas em países como a Inglaterra ou a França, mas também em Portugal. Acredita-se que a popularidade do governo Sócrates tem não só resistido às dificuldades presentes, como aumentado mesmo a sua cotação.
A ser assim, as várias classes profissionais humilhadas e ostracizadas pelo executivo socialista, as centenas de milhar de desempregados existentes, os inúmeros precarizados e sujeitos a vínculos laborais próprios do século XIX, as populações que um pouco por todo o país têm visto desaparecer as instituições locais de educação, saúde, correios, segurança social, etc, a generalidade da população que tem visto a carga fiscal aumentar desmesuradamente e o investimento público e os serviços prestados pelo Estado atingirem um ponto próximo da negligência, ou estão satisfeitas com o seu destino ou, pelo menos, não encontram outra alternativa do que premiar quem os pôs nesta situação. Todos estes portugueses que viram a sua qualidade de vida ser profundamente afectada pelos ditames do tiranete Sócrates, que foram vítimas da lógica neoliberal da mercadorização de tudo e de todos, que viram os seus rendimentos diminuírem e as suas poupanças serem esbulhadas sem pudor, que viram aumentar de forma escandalosa o fosso entre ricos e pobres, que viram o nosso país atingir índices de desenvolvimento que o situam na cauda da Europa irão esquecer, relevar, louvar. Será?
Não se duvida da competência e agressividade das agências de propaganda deste Governo. Não se duvida da eficácia da mistificação política, reiterada diariamente. Não se duvida do profundo desprezo e agressividade com que são tratados todos aqueles que se atrevem a contestar as orientações governativas. As mais elementares regras do debate político e da convivência democrática têm sido implacavelmente espezinhadas. A lógica da maioria absoluta mostra-se implacável. Quem não está connosco está contra nós!, disseram alguns, noutro contexto totalitário.
Não nos esqueçamos, no entanto, que os efeitos da crise são bem reais e vão ser sentidos fortemente pela generalidade da população. Não se tratam aqui de jogos políticos, nem de aritméticas eleitorais. É mais do que isso; trata-se da sobrevivência. É, assim, algo que é difícil esquecer e que diz respeito a cada um de nós. A denúncia da opressiva e gravosa actuação política do governo PS-Sócrates e a concomitante atribuição das responsabilidades a quem as tem é, em todo o caso, a principal missão da esquerda.
Hugo Fernandez