No passado dia 6 de Abril, José Sócrates era um homem preocupado. O Governo português ia fazer o anúncio que tantos temiam. A situação das finanças públicas era de tal modo grave que não restava outra alternativa senão recorrer ao fundo de resgate europeu e à sempre dramática intervenção do FMI. Seria certa a aplicação de uma receita tantas vezes experimentada e com resultados sociais tão desastrosos um pouco por todo o mundo: desmantelamento dos serviços públicos, privatização generalizada da economia, total precarização laboral, escalada dos despedimentos, cortes nas pensões e nos salários, empobrecimento acentuado da população.
Podia ser até, como alguns alvitravam, que Sócrates estivesse preocupado com o golpe de rins que teria que dar para explicar aos portugueses como é que ainda há duas semanas (dia 25 de Março de 2011, para ser mais preciso) declarava que “Portugal não precisa de aderir a nenhum fundo de resgate e manterei a mesma determinação na defesa do meu país para que isso não aconteça”, ou que, na precisa manhã do “dia D”, uma nota do seu gabinete de imprensa fosse perentória em afirmar que o dito pedido de financiamento “Não passa de um rumor sem fundamento.”
Claro que podia sempre desculpar-se com a crise política despoletada com a apresentação em Bruxelas do PEC IV e disfarçar a total irresponsabilidade e falta de cultura democrática – estilo quero, posso e mando – de que deu provas na condução do processo e que até alguns dos seus fieis correligionários acabaram por admitir (ou teria sido um esticar de corda intencional?). Afastaria, desta forma, a responsabilidade absoluta (sim, porque a maioria absoluta traz consigo responsabilidades de igual quilate!) pelos anos de desmando e de esbanjamento à tripa forra, alimentando cortes de assessores, boys, nababos e interesses megalómanos de toda a espécie, e lançando sobre todos os outros o ónus da presente situação.
Era também compreensível que estivesse preocupado em explicar aos seus concidadãos como ia continuar a governar quando tinha afiançado, ainda não há um mês (19 de Março de 2011, para ser mais preciso), que não estaria disponível para tal caso fosse necessário recorrer à intervenção do FMI. Ou como justificar uma nova apresentação a eleições na qualidade de secretário-geral do seu partido e, desta forma, com a hipótese real de ser chamado a formar, mais uma vez, governo…com o FMI instalado em Portugal.
Razões para preocupação não faltavam. A hora da comunicação anunciada aproximava-se e o país estava suspenso. As televisões entraram em directo. Ecce homo. Por momentos vislumbramos na SIC um Primeiro-ministro em mangas de camisa num plano aproximadíssimo e pouco ortodoxo. Tinha sido engano. Ainda não tinha chegado a altura do acto propriamente dito. Na TVI, este lapso de emissão foi mais completo; durou um pouco mais e teve um som bem audível. A mesma personagem, a mesma camisa branca, a mesma gravata azul clara. E… a preocupação de José Sócrates: “Ó Luís, vê lá na… (no monitor) como é que fico a olhar para os… (referia-se aos telepontos)” – dando um jeitinho à cabeça, ora para a direita, ora para a esquerda – “Assim fica melhor? Ou fica melhor assim?”
Como é possível sermos governados por gente desta!?
Hugo Fernandez