SOBRE o que ando a ler e a OUVIR... será verdade?!
O acto de ouvir exige humildade de quem ouve. E a humildade está nisso: saber, não com o coração mas com a cabeça, que é possível que o outro veja mundos que nós não vemos. Mas isso, admitir que o outro vê coisas que nós não vemos, implica em reconhecer que nós somos meio cegos... Vemos pouco, vemos torto, vemos errado. Bernardo Soares diz que aquilo que vemos é aquilo que somos. Assim, para sair do círculo fechado de nós mesmos, em que só vemos o nosso próprio rosto reflectido nas coisas, é preciso que nos coloquemos fora de nós mesmos. Não somos o umbigo do mundo. E isso é muito difícil: reconhecer que não somos o umbigo do mundo! Para se ouvir de verdade, isto é, para nos colocarmos dentro do mundo do outro, é preciso colocar entre parêntesis, ainda que provisoriamente, as nossas opiniões. AS Minhas opiniões! É claro que eu acredito que as minhas opiniões são a expressão da verdade. Se eu não acreditasse na verdade daquilo que penso eu trocaria os meus pensamentos por outros. E se falo é para fazer com que aquele que me ouve acredite em mim, troque os seus pensamentos pelos meus. É norma de boa educação ficar em silêncio enquanto o outro fala. Mas esse silêncio não é verdadeiro. É apenas um tempo de espera: estou esperando que ele termine de falar para que eu, então, diga a verdade. A prova disto está no seguinte: se levo a sério o que o outro está dizendo, que é diferente do que penso, depois de terminada a sua fala eu ficaria em silêncio, para ruminar, ruminar... aquilo que ele disse, que me é estranho...será!. Mas isso jamais acontece. A resposta vem sempre rápida e imediata. A resposta rápida quer dizer: Não preciso ouvi-lo. Basta que eu me ouça a mim mesmo. Não vou perder tempo ruminando o que disse. Aquilo que você disse não é o que eu diria, portanto está errado...
Se calhar, digo se calhar, isto vem a propósito do que as centrais de informação/propaganda políticas andam à três dias a dizer e a contradizer. E eles a pensarem que o entretenimento e a inebriamento do futebol tudo levava e sorrateiramente acordávamos com a maior manigância política à nossa cabeceira. E o que resta... não conta: as pessoas, as opiniões, a ética, a democracia (!)... . Calhando, tudo isto não passa de... calhando!