Do Hugo Fernandez para o Albardeiro com assinatura dupla.
Como bem referiu Ferro Rodrigues, a decisão do Presidente da República foi política. Exclusivamente política. Não resultou de qualquer obrigação legal, nem de nenhum preceito constitucional vinculativo. Jorge Sampaio optou, portanto. E optou pela defesa dos interesses instalados, pelo incentivo ao oportunismo e à falta de escrúpulos, pelo compadrio e pela negociata política, pela vitória do populismo mais desbragado. Optou, enfim, por uma caricatura da democracia. Ao tomar esta atitude, Sampaio renegou a todo o seu passado. A um passado de convicções e de luta anti-fascista, a um passado de militante e dirigente socialista, à simpatia de milhões de portugueses que lhe deram toda a confiança política e o elegeram por duas vezes Chefe de Estado. Sampaio traiu a esperança nele depositada pelas mulheres e homens de Esquerda deste país. Mais do que isso. Optou por calar-lhes a voz, negando-lhes o direito básico ao voto e à expressão livre da sua vontade. Um dirigente da Direita não teria feito melhor. E a triste ironia disto tudo é pensarmos, como sugeriu à dias Miguel Sousa Tavares, se, com Cavaco Silva, as coisas teriam acontecido desta maneira. Jorge Sampaio suicidou-se politicamente. A Esquerda nunca lhe poderá perdoar.