Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!
Domingo, 18 de Julho de 2004
ALENTEJO: um equívoco ou uma região?

A GEOGRAFIA E A HISTÓRIA


Parte IV


Enquanto a poesia espera... vamos retomar assuntos, de certa forma, já um pouco “fermentados” e cuja “cozedura” devia ter acontecido há uns tempos ulteriores. Estamos a referir-nos a textos que ficaram incompletos desde o “POST” de 23 de Junho... claro! Alentejo... cujo último parágrafo dizia o seguinte: “O fim da Campanha do Trigo e as tentativas de regadio foram, aliás, suficientes para desmentir a vocação essencialmente cerealífera da economia Alentejana, mantida pelo Estado Novo e, até depois do 25 de Abril, tentada de certa forma, pela Reforma Agrária. Tivemos que esperar pela integração no espaço económico comunitário para se assistir à crise/falência total e aberta do sistema. Que Futuro?”.


Então o que é que se pode (mais) acrescentar em relação ao porvir do Alentejo, tendo em conta a sua História e Geografia ... parece-me que ainda alguma coisa, pouca mas... cá vai:


O desenvolvimento histórico da agricultura alentejana e nacional assentou sempre em sistemas de produção extensivos com uma forte componente florestal e pastoril. A tímida intensificação empreendida no tempo da ocupação romana, o lento crescimento populacional ao longo da Idade Média e a introdução de espécies exóticas (com relevo para o milho e a batata) não chegaram para alterar este padrão que assentava, entre outros factores, na estrutura fundiária muito concentrada no sul do país, a qual era mantida pelo padrão de colonização seguido. Esta situação começou a modificar-se a partir da segunda metade do século passado, com o crescimento da área cultivada que, de um modo geral, mobilizou terrenos, como já referimos, de qualidade marginal. Este movimento culminou, já na década de 30 deste século, com a campanha do trigo, que ainda hoje constitui entre nós um paradigma da erosão e desertificação causada pelo homem e induzida neste caso por medidas de política de sentido único.


Após a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia registou-se um aumento muito significativo do investimento no sector agrícola, designadamente em novas áreas de regadio, onde foram instaladas culturas intensivas. Paralelamente verificou-se uma descida acentuada da superficie ocupada por cereais, motivada pelo abandono das áreas marginais. Admite-se que, em várias situações, embora pontuais, os investimentos efectuados tenham tido efeitos ambientais negativos, nomeadamente no que se refere ao aumento do teor de nitratos nas águas superficiais ou subterrâneas. Apesar disso, a agricultura alentejana continua a ser caracterizada por sistemas de produção extensivos, os quais, na generalidade dos casos são compatíveis com o ambiente e não constituem causa de fenómenos de desertificação.


O património natural alentejano e, também, nacional é assim resultado da longa interacção entre a actividade humana e o meio ambiente, decorrente sobretudo da actividade agrícola, pecuária e florestal, que modelou através dos tempos a paisagem rural de que desfrutamos nos dias de hoje. Por isso, o que se apelida actualmente de paisagem natural, não é mais do que o produto da humanização do território, num processo de ocupação das diferentes regiões do país marcada pela evolução das práticas agrícolas e pela introdução de novas espécies. Sem prejuízo de se reconhecer a necessidade de monitorizar sistematizadamente as consequências fisicas, sócio-económicas e ambientais da execução das medidas da Política Agrícola Comum (PAC), pode-se afirmar que a reforma da PAC realizada em 1992, ao transformar os apoios à sustentação dos preços à produção em ajudas directas ao rendimento dos agricultores, veio criar condições para a redução da pressão exercida pelos sistemas agro-pecuários sobre o ambiente.


Com efeito, inicialmente mercê de um regime de preços à produção extremamente compensador, os sistemas de agricultura estavam anteriormente orientados para a maximização da produção unitária, com os riscos inerentes a esta atitude - sobre-exploração de solos marginais, compactação do solo e abuso de agro-químicos. As transformações operadas a partir daquela data determinaram uma acentuada descida nos preços dos produtos (compensada por subsídios fixos aos produtores), descida essa que esvaziou de sentido a anterior tendência de maximização da produção fisica por hectare.


Também a instituição do chamado set aside, ao determinar a obrigatoriedade de colocação em pousio de uma parte da exploração agrícola, reforçou os objectivos das rotações tradicionais - com as inerentes vantagens em termos técnicos e ambientais - e criou condições para a redução da erosão dos solos marginais. As medidas de apoio à florestação dos solos agrícolas, estabelecidos no âmbito das medidas de acompanhamento da PAC, foram uma oportunidade perdida e podiam-se ter revelado extremamente interessantes do ponto de vista do combate à desertificação, potenciando a reconversão de solos menos aptos para a produção agrícola, contribuindo por essa via para a sua reabilitação ou utilização não degradativa.


Contudo, não pode deixar de se referir que as mobilizações do solo efectuadas para as plantações podem ter contribuído para a ocorrência, embora pontual, de fenómenos erosivos. Por seu lado, os apoios concedidos no âmbito das medidas Agro-Ambientais têm permitido a manutenção de sistemas produtivos extensivos e de viabilidade económica reduzida mas ambientalmente pouco agressivos, É o caso do amendoal, do olival, dos lameiros, de alguns sistemas cerealíferos, do pomar tradicional de sequeiro, etc...


CONTINUA



publicado por albardeiro às 23:58
link do post | comentar | favorito

pesquisar
 
Março 2023
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10

12
13
14
15
16
17
18

20
21
22
23
24
25

26
27
28
29
30
31


posts recentes

Uma homenagem a Rui Nabei...

FORTUNAS

Problemas de interpretaçã...

A autonomia das Universid...

CARTA ABERTA (sobre a Edu...

A FÓRMULA

UNIVERSAL

PERIGO

A RELAÇÃO

RECONHECIMENTO

arquivos

Março 2023

Fevereiro 2023

Dezembro 2022

Novembro 2022

Outubro 2022

Setembro 2022

Junho 2022

Maio 2022

Abril 2022

Março 2022

Janeiro 2022

Dezembro 2021

Novembro 2021

Outubro 2021

Agosto 2021

Julho 2021

Junho 2021

Abril 2021

Março 2021

Fevereiro 2021

Janeiro 2021

Dezembro 2020

Outubro 2020

Julho 2020

Junho 2020

Abril 2020

Fevereiro 2020

Janeiro 2020

Novembro 2019

Outubro 2019

Setembro 2019

Junho 2019

Maio 2019

Abril 2019

Março 2019

Janeiro 2019

Novembro 2018

Setembro 2018

Julho 2018

Maio 2018

Abril 2018

Fevereiro 2018

Janeiro 2018

Dezembro 2017

Novembro 2017

Outubro 2017

Setembro 2017

Julho 2017

Junho 2017

Maio 2017

Abril 2017

Março 2017

Fevereiro 2017

Janeiro 2017

Dezembro 2016

Novembro 2016

Outubro 2016

Setembro 2016

Agosto 2016

Julho 2016

Junho 2016

Maio 2016

Abril 2016

Março 2016

Janeiro 2016

Novembro 2015

Outubro 2015

Setembro 2015

Agosto 2015

Julho 2015

Maio 2015

Abril 2015

Março 2015

Fevereiro 2015

Janeiro 2015

Dezembro 2014

Outubro 2014

Setembro 2014

Agosto 2014

Julho 2014

Maio 2014

Abril 2014

Março 2014

Fevereiro 2014

Janeiro 2014

Dezembro 2013

Novembro 2013

Outubro 2013

Setembro 2013

Agosto 2013

Julho 2013

Junho 2013

Maio 2013

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Novembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Julho 2012

Junho 2012

Maio 2012

Abril 2012

Março 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Dezembro 2011

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Agosto 2011

Julho 2011

Junho 2011

Maio 2011

Abril 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Novembro 2010

Outubro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Abril 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Setembro 2008

Julho 2008

Junho 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Fevereiro 2007

Janeiro 2007

Novembro 2006

Outubro 2006

Setembro 2006

Agosto 2006

Julho 2006

Junho 2006

Maio 2006

Abril 2006

Março 2006

Fevereiro 2006

Janeiro 2006

Dezembro 2005

Novembro 2005

Outubro 2005

Setembro 2005

Julho 2005

Junho 2005

Maio 2005

Abril 2005

Março 2005

Fevereiro 2005

Janeiro 2005

Dezembro 2004

Novembro 2004

Outubro 2004

Setembro 2004

Agosto 2004

Julho 2004

Junho 2004

Maio 2004

Abril 2004

Março 2004

blogs SAPO
subscrever feeds
Em destaque no SAPO Blogs
pub