A GEOGRAFIA E A HISTÓRIA
Parte V
O modelo de desenvolvimento económico imposto ao país nas últimas décadas coloca por sua vez alguns problemas em termos de riscos de desertificação. Com efeito, importa referir que a litoralização da economia, ao induzir o progressivo despovoamento do interior, acentua tendências de desertificação fisica. Assim, as consequências do abandono dos campos do interior - que se vem verificando de algumas décadas para cá, mas que se acelerou nos últimos anos - estão patentes na degradação da paisagem e no desequilíbrio da flora. O abandono dos sistemas produtivos vigentes facilita ainda a propagação dos fogos florestais, com consequências sociais, económicas e ambientais de enorme gravidade. Com efeito, a ocupação humana tem sido historicamente um elemento contrário à degradação ambiental nessas zonas. Noutros tempos, que o tempo/hoje economicamente já não comporta, da ancestral utilização de matos para as camas dos animais, juntamente com a recolha de lenha, reduzia os riscos de incêndio. Os hábitos alimentares conferiam significado económico às produções ecologicamente adaptadas. É o caso do consumo do pão de trigo e de centeio, do azeite, do vinho, do porco de montado, e até de frutos secos como as chamadas "passas" de figo, abrunho e da utilização da alfarroba.
O desenvolvimento do sector agrícola nacional far-se-á num quadro de profundas mudanças decorrentes nomeadamente:
* do processo de consolidação da União Económica e Monetária e do modelo geral de desenvolvimento que este processo impõe;
* do alargamento da União Europeia;
* da actual/próxima reforma da PAC;
* da reabertura de negociações multilaterais no âmbito da Organização Mundial do Comércio, tendentes à liberalizarão dos mercados agrícolas.
Estas mudanças reflectir-se-ão fatalmente numa ainda maior exigência relativamente à competitividade do sector agrícola, a qual só é possível com uma redução dos custos de produção ou através do carácter genuíno dos produtos, que lhes confere um elevado valor acrescentado.
Neste contexto de mudança, largos sectores da nossa agricultura não têm condições para ser competitivos. Uma das vias para ultrapassar esse bloqueamento consiste na valorização dos produtos regionais tradicionais, promovendo o seu carácter genuíno.
Por outro lado, haverá que reconhecer o importante papel dos agricultores na conservação do ambiente e dos recursos naturais, e na protecção do espaço natural e da paisagem. Ora, embora não sejam ainda conhecidas as grandes linhas de reformulação da PAC, é possível prever que se mantenham, provavelmente com maior expressão financeira, as ajudas aos agricultores que prossigam práticas agrícolas compatíveis com a conservação dos recursos naturais e a protecção da paisagem rural. É também previsível que os critérios de atribuição das ajudas sejam mais exigentes, designadamente na sua componente ambiental. As preocupações ambientais vão estar presentes, aliás, em todas as medidas de política promovidas pela União Europeia, nomeadamente no que se refere ao investimento nas explorações agrícolas.
A terceira possibilidade prende-se já com a problemática do desenvolvimento rural e tem a ver com a necessidade de as actividades não agrícolas do meio rural virem a contribuir para uma maior diversificação do tecido económico e social das zonas rurais, proporcionando aos agricultores rendimentos complementares significativos. Caso a (nova) PAC venha, como se pensa, a consubstanciar apoios para esta orientação, estes poderão permitir a redução da tendência verificado nas últimas décadas de abandono da actividade agrícola, possibilitando a manutenção das explorações agrícolas em muitas regiões onde esta é a actividade económica predominante, como é o caso da nossa região.
CONTINUA