Também a roubei.... ao_sul
O que se segue, em particular para os convivas presentes no encontro de Beja, não deve ser entendido como um exercício de diletante, muito pelo contrário, são observações que pretendem ser um olhar mais socio-antropocomunicacional, todavia, trata-se apenas de um outro olhar, provavelmente do mesmo olhar que outros já deram da conhecer, e forma diferente, nos seus espaços de webring. O objectivo é o mesmo - as iniciativas tem que continuar e o mais difícil parece estar feito -, ou seja, dar os primeiros passos e começar a caminhar, foi perder o medo... agora é necessário definir caminhos e construir pontes. Do ALBARDEIRO para o mundo outras impressões de ... ou não poderá o quotidiano e o seu devir ser sempre uma investigação cientificamente conduzida há que formular problemáticas...!
Tempo de Blogs
Para discutir a ideia dos blogs como agregadores sociais, é preciso discutir também a ideia de identidade enunciada pelo indivíduo através do seu blog e deste como representação individual ou colectiva no chamado ciberespaço, segundo a ideia de representação do eu. Assim, é possível perceber porque é que os blogs podem funcionar também como elementos de representação do "eu" de cada um, e como "janelas" para que outros possam "conhecer" o indivíduo, permitindo que a interacção aconteça entre pessoas.
(Re)confirmou-se in loco que os blogs permitem ao indivíduo expressar várias facetas da sua personalidade. De acordo com as teorias pós-modernas da identidade que são entendidas a partir da multiplicidade do self, do "eu" enquanto um trabalho de construção, mudança e, principalmente, diversidade. O blog pode ser reconfigurado a cada momento para "reflectir a última concepção de identidade do eu" do seu autor. A ideia de que se "constrói" a identidade é extremamente importante para a compreensão do blog como uma faceta desta identidade. Ao mesmo tempo em que um blog é mutante (constantemente modificado, actualizado, reformulado, reconstruído), a identidade do indivíduo também o é. Döring (2002) afirma: A construção de uma home-page pessoal promove uma resposta sistemática para a questão crítica da identidade 'quem sou eu' e dá suporte à internacionalização da resposta individual.
Dentro desta perspectiva, na maioria das situações, o blog publica o "eu" diário e reconstruído do indivíduo. Ele traz a reconfiguração da identidade particular de cada um todos os dias. O layout do blog também faz parte dessa visão do "eu". Desde as cores, elementos e imagens escolhidas, o website pessoal também passa pela percepção de si mesmo, agora aumentada pelo poder de actualização do blog. Constatou-se que muitos dos bloggers navegam no ciberespaço como um espaço cultural de simulação, onde é possível falar, trocar ideias e assumir personagens da nossa própria criação. Constatou-se também, nalguns depoimentos dos presentes, que, em algumas situações, a atitude do blogger configura uma fragmentação do próprio indivíduo no ciberespaço - é possível ser uma nova pessoa ou apresentar um novo eu que exacerba uma parcela da sua personalidade, muitas vezes não condizente com o eu real. Podemos estender essa visão para o blog, como uma das múltiplas potencialidades, ele pode revelar, esconder ou mesmo exacerbar facetas da personalidade do seu autor. Exactamente por isso, muitos blogs podem ser considerados narcisísticos.
O blog representa alguém. Os pensamentos, factos da vida e outros elementos narrados, servem como representação do indivíduo. E, é a partir desta representação que ele é conhecido e percebido pelos demais. E deste modo, será que podemos afirmar que por lado, ser representado na Web por uma página pessoal atractiva, rica em informações, profissional ou humorística pode melhorar a impressão que fazemos de uma determinada pessoa que não nos seja pessoalmente familiar e, por outro lado, a página pessoal pode inclusive suplementar as impressões cara-a-cara que fazemos das pessoas que nos são familiares ou que conhecemos pessoalmente. Os próprios bloggers reconhecem que o blog actua como um motivo para que outras pessoas os conheçam e tenham uma boa impressão de si. "Já falei com muita gente interessante por causa do blog", disse um dos participantes, explicando porque fica agradado com os acessos ao seu blog de pessoas desconhecidas. Outro, explicou: "Vejo-o como um canal de comunicação com os meus amigos e uma maneira de mostrar pro (sic) mundo que eu existo e tenho alguma coisa para dizer." A partir destas opiniões, percebeu-se, através do fragor envolvente, que o blog é uma forma de "demarcar o território" no ciberespaço, sentir-se representado, identificado. É uma forma de expressão de si mesmo, como afirmava mais um dos convivas é " uma forma de expressão, onde os outros podem entrar em contacto com a minha personalidade, com a minha vida." Portanto, é uma maneira de se perceber a si mesmo e aos outros. Parece-nos que, aliás ficou claro, o blog é uma realização pessoal para as pessoas: mostra que elas estão ali, mostra como elas se representam, possibilitando que elas sejam conhecidas por outras pessoas e que desenvolvam com essas pessoas interesses em comum. Depois, porque já é um dado adquirido, ter um blog facilita a comunicação com outras "comparsas" que têm interesses em comum, e assim, dessa forma e por esse meio, poderem também trocar ideias sobre matérias/assuntos com os quais têm alguma afinidade, dá ainda a possibilidade de conhecer gente nova, descobrir novos blogs de pessoas que fazem comentários aos textos, outras vezes, descobrir links para sites bastante diferentes e interessantes.
Deste modo, uma comunidade virtual, de acordo com o conceito explicitado anteriormente, é mais do que um suporte no ciberespaço, torna-se mais apelativo do que um canal de chat ou mesmo um website. O suporte está relacionado com o que se convencionou denominar por - virtual settlement. Deste forma, a comunidade constitui-se dos indivíduos e das suas relações construídas a partir do virtual settlement. Ora, entendendo o webring como um virtual settlement, podemos entender também as relações das pessoas que fazem parte do círculo, com os seus blogs e comentários diários, como uma comunidade virtual. Isto porque todas as características estão presentes: a temporalidade das relações, uma vez que os blogs são actualizados frequentemente, bem como os comentários, que são feedbacks de cada post, e que representam a interacção mútua possibilitada pelo sistema; quase todos os blogguers afirmaram que lêem os blogs diariamente. Vários contaram/reconfirmaram casos em que conheceram ou encontraram alguém a quem não "viam" há muito tempo através dos webrings e mesmo relatos de vários e novos interesses/amizades estabelecidas, em princípio, através dos sistemas interactivos dos blogs. Além disso, podemos reconhecer os blogs como representações individuais dos seus autores, possibilitando que estes sejam identificados e tenham de si impressões construídas pelos demais, que interagem, através do virtual settlement com o autor e com os demais elementos da comunidade. Mais encontros são certamente necessários, primordialmente, para determinar se todos os webrings podem constituir-se em comunidades virtuais, bem como discutir a aplicabilidade de soluções que garantam a regulamentação (atenção, sem invadir a liberdade de criação e de informação, aliás já afirmado no "post" anterior) que foi proposta por alguns bloggers neste último encontro.
Aviso importante: não se tem aqui a intenção de realizar um estudo absoluto, mas tão só de lançar para o debate mais indícios e discussões sobre o fenómeno dos blogs.