ESCOLA de ATENAS (RAFAEL)
Introdução
"A Escola de Atenas", pintada por Rafael no início do século XVI, representa uma visão filosófica e intelectual do Renascimento, destacando figuras importantes da filosofia antiga grega. Ao analisar esta obra no contexto conceptual, histórico, filosófico e sociológico da educação, da escola e do conhecimento, podemos extrair várias reflexões que podem ser aplicadas ao entendimento e evolução da educação nas próximas décadas.
Perspetivas Futuras:
Ao unir os elementos da pintura de Rafael com as necessidades e desafios modernos, a educação pode evoluir para um ambiente que cultive não apenas o conhecimento, mas também as competências e valores essenciais para enfrentar os complexos desafios do século XXI
Obrigado
Domingos Caeiro
Universidade Aberta
O momento atual em Portugal reflete muitas das preocupações globais ou pelo menos, as preocupações da falência do atual modelo europeu e ao qual não estamos imunes (leva é um pouco de mais tempo a cá chegar!). A desigualdade social e a riqueza são uma questão premente, especialmente à luz da crescente pressão sobre as democracias liberais. Os movimentos populistas tanto à direita quanto à esquerda têm encontrado eco dentro do país, embora em escalas diferentes comparadas a outras nações da “esfera dita ocidental”.
A referência aos populismos de direita em diversos países pode ser relacionada ao surgimento de movimentos políticos semelhantes em solo português. A preocupação com a polarização política e a pressão sobre as democracias liberais alerta para a importância de uma abordagem equilibrada e inclusiva no cenário político nacional.
Há também um reconhecimento de que a complacência não é mais uma opção. Portugal enfrenta desafios que não podem ser ignorados, desde crises económicas até ameaças ambientais. Existe a necessidade urgente de ação decisiva, tanto no âmbito doméstico quanto no internacional, para evitar cenários sombrios.
O apelo para que Portugal não ignore os desafios iminentes, sob pena de repetir erros passados, ressoa com a necessidade de uma atenção urgente para questões como alterações económicas, das relações laborais, mudanças climáticas, crises financeiras e desigualdades. Isso pode traduzir-se em apelos por políticas sustentáveis, medidas económicas responsáveis e esforços para combater a exclusão social.
No entanto, o país também enfrenta obstáculos internos na implementação de políticas eficazes para lidar com esses desafios. Embora um futuro mais otimista seja desejável, uma análise realista indica que o caminho que temos pela frente pode ser turbulento, com implicações para o emprego, economia e paz interna (populismos) e externa (Ucrânia, NATO…).
Apesar da frase feita — de que em Portugal vivemos sempre em crise — crise económica, social, financeira, política, geracional, educacional…., no entanto, que eu me lembre (talvez nos idos de 1975), não tenhamos tido, nestes 50 anos de democracia, um problema tão crucial na política portuguesa: o agravamento da desigualdade social e a desvalorização da dignidade do trabalho. Estes são sintomas de uma sociedade onde largas camadas da população se sentem marginalizadas e desempoderadas. Quando as pessoas se percebem como excluídas e descartadas, surgem sentimentos de rancor e raiva, criando um terreno fértil para demagogos e populistas. As pessoas, sentindo-se descartadas, representam um terreno fértil para o surgimento de lideranças demagógicas e populistas. Não é de estranhar, muito à semelhança do que aconteceu nos anos trinta, do século passado, que observamos movimentos e figuras políticas que capitalizam esse descontentamento, explorando a raiva e o rancor gerados pela sensação de impotência.
Em Portugal, vemos claramente os efeitos desse fenómeno. O aumento da desigualdade social, aliado a políticas económicas que nem sempre privilegiam a proteção dos direitos e interesses dos trabalhadores, contribui para um clima de insatisfação e descontentamento. Os baixos salários, a precariedade laboral e a falta de oportunidades para as camadas mais vulneráveis da população alimentam um sentimento de exclusão e desesperança.
Em Portugal, o persistente desafio da desigualdade social não apenas mina a coesão social, mas também corroí a confiança nas instituições democráticas. O aumento da disparidade económica e a perceção de que certos estratos da sociedade são negligenciados alimentam um sentimento de exclusão e desamparo. O resultado desse fenómeno é uma sociedade propensa à manifestação de ressentimento e indignação.
Neste contexto, é fundamental que os líderes políticos reconheçam e enfrentem essas questões de frente. A resposta não pode ser apenas retórica, mas sim a implementação de políticas concretas e eficazes que promovam a inclusão social, valorizem o trabalho digno e combatam a desigualdade. Isso requer um compromisso genuíno com a justiça social e a proteção dos direitos humanos, além de uma abordagem colaborativa que envolva a sociedade civil e os diversos setores da economia. É vital que as instituições políticas reconheçam a importância de restaurar a confiança nas estruturas democráticas, procurando uma governação mais transparente e responsiva às necessidades da população.
A política em Portugal enfrenta o desafio de recuperar a confiança e a esperança das pessoas, oferecendo soluções tangíveis para os problemas enfrentados pela população. Ignorar ou minimizar essas questões só servirá para alimentar o ressentimento e fortalecer os populismos que procuram capitalizar o descontentamento popular. O momento exige liderança corajosa e comprometida com o bem-estar de todos os cidadãos, garantindo que ninguém seja deixado para trás no caminho rumo ao progresso e à justiça social. Portugal não está imune aos desafios delineados neste texto. Portugal enfrenta o desafio de reconstruir um contrato social que assegure a dignidade, a inclusão e a participação efetiva de todos os cidadãos. O país enfrenta uma encruzilhada que exige liderança e cooperação para evitar um desfecho distópico.
Albardeiro
O desprezo olímpico com que José Luís Carneiro tratou o filho de um agente de segurança que o interpelou numa sessão de autógrafos do seu livro Ganhar o Futuro, a 19 de janeiro deste ano no Porto, queixando-se das condições degradantes em que o seu pai exercia as suas funções, foi verdadeiramente chocante. Durante alguns minutos, de cabeça baixa, nunca encarando o seu interlocutor nem lhe dirigindo qualquer palavra, o ainda ministro da Administração Interna mostrou bem a profunda sobranceria e indiferença para com aqueles homens e mulheres por quem é, afinal, o primeiro responsável. Foi o seu “momento bolo-rei”, lembrando um Cavaco Silva boçal a atafulhar a boca de bolo-rei para não responder às perguntas dos jornalistas, na campanha eleitoral para as presidenciais de 1996.
Nos inícios de fevereiro, os cortes entre 25% e 30% nos apoios agrícolas foram a “gota de água” que fez transbordar a revolta dos agricultores, um pouco por todo o país. Revoltas inorgânicas, isto é, sem o enquadramento – pelo menos explícito! – das grandes organizações representativas do setor, levaram ao bloqueio de estradas, à exigência do diálogo com a ministra Maria do Céu Antunes e ao pânico do Governo em toda a linha. De repente, nos ecrãs televisivos, a ministra da Agricultura ladeada pelo ministro das Finanças, anunciavam um generoso pacote de 200 milhões de euros, desenterrados não se sabe ao certo de onde, para mitigar o descontentamento rural. Uma semana depois do IFAP (Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas), presidido por Rui Martinho, ter comunicado aos agricultores os cortes nos apoios, foi o mesmo organismo oficial que veio informar os agricultores da correção desses mesmos cortes e da atribuição das verbas devidas. Um primor de decência na governação da “coisa pública”! Cortes nos apoios comunitários que, diga-se, foram comunicados nas vésperas de os agricultores receberem o seu pagamento, a 25 de janeiro, e que correspondem ainda ao ano de 2023. Certamente foi essa a razão que levou os agricultores em protesto a rebatizaram o instituto em questão de “Instituto da Fome e da Arrogância de Portugal” (Público, 2/2/2024).
Porque é, de facto, de arrogância na governação que se trata. E nesta matéria, as tristes experiências de maiorias absolutas, quer da direita, quer dos governos PS, padecem do mesmo mal. A autarcia do poder e a completa ausência de diálogo com classes profissionais inteiras que ao longo de meses demonstraram descontentamento profundo pelas injustiças de que sofriam, são sinais mais do que evidentes da crise do sistema democrático. Aconteceu assim com os professores, com os enfermeiros, com os médicos, com os oficiais de justiça, com as forças de segurança.
Há dez anos, num artigo na revista Visão, José Gil comentava a “indiferença férrea” do Governo Passos Coelho – Paulo Portas perante as inúmeras manifestações e greves que contestavam a sua política, “Como se tivessem chegado a uma barreira intransponível ou ao fim do que há para pensar.” (Visão, 13/2/2014). Intitulado “O pacto de silêncio”, neste artigo o filósofo chega à seguinte conclusão: “Fica a impressão, para o leitor ou espetador, de que as ideias deixaram de ter o mínimo efeito prático, mesmo quando dizem a verdade”. De igual forma, na reedição portuguesa do seu livro O Descontentamento da Democracia (Lisboa, Presença, 2023), de 1996, o filósofo norte-americano Michael Sandel questiona se o problema mais urgente da democracia não está precisamente na incapacidade de nos ouvirmos uns aos outros, isto é, de tomarmos em consideração os problemas que afligem os nossos concidadãos. Fazer com que todos sintam que a sua opinião conta, contribuirá para a revitalização da vida coletiva, “esvaziada de energia cívica e moral por décadas de globalização neoliberal, o que alimentou ressentimentos e os populistas que deles bebem.”, como é referido (Público/Ípsilon, 5/1/2024). O agravamento da desigualdade social e a desvalorização da “dignidade do trabalho”, qualquer que ele seja, são o corolário lógico desta deriva de desempoderamento de largas camadas da população. As pessoas sentem-se excluídas da sociedade, descartadas. Sobrevém o rancor e a raiva da impotência, terreno fértil para os demagogos e populistas em todo o lado.
Quando Carlos Gaspar, no podcast Diplomatas, chegou à conclusão de que “Há 20 anos, 80% dos governos na Europa Ocidental eram dirigidos por sociais-democratas ou democratas cristãos; hoje são 20%.” (Público 3/2/2024), este cientista político não teve a noção de que é justamente na génese dessa realidade que está a raiz do problema. A extrema-direita nasceu e desenvolveu-se em consequência do fracasso social de décadas de governos ao serviço das “troikas” deste mundo. Satisfazendo sempre os grandes interesses financeiros e os poderes instalados, as políticas desenvolvidas quer por socialistas ou sociais-democratas, quer por democratas cristãos ou liberais, pouca ou nenhuma consideração tiveram pela vida do comum dos mortais. Faz, assim, todo o sentido o dilema colocado pela jornalista Bárbara Reis: “Como travar os vendedores ambulantes que propagam teorias da conspiração, alimentam o ódio e o medo e prometem soluções simples para problemas difíceis? Lá está: é um problema difícil.” (Público 3/2/2024).
É por isso que, como alerta Rui Tavares, “Quase 50 anos após o 25 de Abril de 1974, aproximam-se os tempos mais difíceis para o regime que esse dia nos legou. Teremos de os passar não a comemorar o regime – mas a salvá-lo” (Expresso, 11/11/2023).
Hugo Fernandez