Reflexão sobre o artigo do Pacheco Pereira, intitulado “A destruição da razão”
Esta prosa tem a ver com o artigo do Pacheco Pereira, intitulado “A destruição da razão”, publicado hoje no jornal Público (https://www.publico.pt/2024/01/06/opiniao/opiniao/destruicao-razao-2075882). Tem a ver também com a “conversa” que foi desencadeada, por um grupo de amigos com os quais partilho há muitos anos(mais de 4 décadas) uma profunda amizade, a maioria das vezes estamos sintonizados nos mesmos ideais, nos mesmos valores, com o qual crescemos na forma de ver o mundo e as suas idiossincrasias, com quem temos partilhado os bons e maus momentos, construindo uma enriquecedora jornada que não apenas solidificou uma profunda amizade entre nós, mas também transformou as nossas vidas, enriquecendo-as com as histórias e memórias que apenas uma amizade duradoura pode proporcionar.
Dessa conversa sobre o artigo do Pacheco Pereira, tomei a liberdade de expressar a minha opinião por escrito, que aqui deixo, tentando, ao mesmo tempo, aprofundar estas questões do enfraquecimento da democracia que o Pacheco Pereira aponta.
A análise profunda que apresenta sobre o atual estado das democracias, focando na interação entre a política e os meios de comunicação, é reveladora e alarmante. Concordo plenamente que a transformação do cenário político num espetáculo mediático tem impactos negativos na autonomia da decisão política e, consequentemente, na qualidade da democracia.
A sua argumentação sobre a convergência entre a política e os meios de comunicação, influenciando-se mutuamente, é esclarecedora. A ênfase na cultura de ação semelhante, na busca pela novidade e na superficialidade em detrimento da racionalidade é um ponto crucial. A emergência das redes sociais como fonte de informação, muitas vezes mais focadas em entretenimento afetivo do que em dados substanciais, contribui para a diluição do ethos, do logos e favorece o pathos, como ele, e bem, afirma.
Ao salientar a perda de autonomia da política e do jornalismo para o contínuo político-mediático, PPereira destaca uma preocupante semelhança com formas modernas de propaganda, agora rotuladas como marketing político. A referência à interferência russa em eleições e o papel de empresas como a Cambridge Analytica adicionam uma dimensão internacional à problemática, evidenciando que esse fenómeno não é exclusivo de um país ou sistema político.
A análise da situação em Portugal, com a dominação mediática pela direita política, proporciona um exemplo prático dos desafios enfrentados pelas democracias em todo o mundo. A crítica à esquerda por abandonar a luta social em prol de questões "fraturantes" é perspicaz, destacando como certas agendas podem desviar a atenção das verdadeiras necessidades das massas populares.
A abordagem sobre o contínuo político-mediático como instrumento de manipulação do justicialismo é impactante. A capacidade de direcionar vazamentos de informações para alcançar objetivos políticos ou autojustificação mostra como o sistema está vulnerável a essas estratégias.
Não podia estar mais de acordo com as questões que o PPereira, pois oferece uma análise crítica e inovadora da crise nas democracias, destacando a necessidade de resgatar a política para servir o bem-estar das pessoas e o jornalismo para informar e escrutinar o poder. O apelo que PPereira faz à cultura, ao conhecimento e à firmeza na ação como contramedidas é uma chamada à ação valiosa para preservar os fundamentos da democracia.
Permitam-me também fazer a minha parte, contribuindo com algumas ideias para esta discussão sobre a destruição da razão através da dominação da vida mediática por forças populistas e reacionárias, que coloquem em causa a vida e os valores democráticos. Nós hoje temos:
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Desinformação Sistematizada:
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Propagação de notícias falsas e teorias conspiratórias para manipular a opinião pública.
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A utilização de algoritmos e bots para amplificar mensagens populistas e reacionárias nas redes sociais, criando bolhas de informação.
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Ataques à Imprensa Livre:
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Descredibilização dos meios de comunicação tradicionais, rotulando-os como "inimigos do povo".
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Assiste-se hoje a um controle neocapitalista corporativo sobre veículos de comunicação, limitando a diversidade de perspetivas e o acesso à informação plural. A política do “cancelamento”….
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Culto à Personalidade:
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Fomento a lideranças carismáticas que centralizam o poder e procuram criar uma narrativa de herói salvador da nação.
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Supressão de vozes críticas e promoção de um pensamento único em torno do líder.
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Polarização Extrema:
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Estímulo à polarização social, criando um ambiente em que as pessoas se veem forçadas a escolher lados extremos.
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Utilização da retórica divisiva para enfraquecer a coesão social e minar a confiança nas instituições democráticas.
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Manipulação da Linguagem:
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Redefinição de termos e conceitos para favorecer a agenda populista e reacionária.
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Uso de linguagem emocionalmente carregada para influenciar as emoções em detrimento do raciocínio lógico.
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Controle da Narrativa Histórica:
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Revisão seletiva da história para promover uma narrativa que justifique as ações do governo populista.
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Supressão de eventos históricos inconvenientes para a narrativa em questão.
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Instrumentalização da Tecnologia:
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Monitoramento massivo da população por meio de tecnologias de vigilância, ameaçando a privacidade e criando um ambiente de autocensura.
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Utilização massiva de redes e de plataformas online para espalhar propaganda e manipular a opinião pública.
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Erosão das Instituições Democráticas:
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Subversão gradual das instituições democráticas, enfraquecendo os sistemas de freios e contrapesos.
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Nomeação de líderes do tipo de “testas-de-ferro” para cargos-chave, minando a independência judicial e a separação de poderes, ou atuando segundo a “voz” de comando, a tal “central” de que fala a Ana Gomes.
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Este elenco de fatores que aqui apresento, tem o objetivo (espero que tenha dado algum contributo) para destacar alguns dos possíveis meios pelos quais as forças populistas e reacionárias podem minar a razão e os valores democráticos através da dominação da vida mediática. Lembrem-se de que a resistência a tais tendências muitas vezes envolve a promoção da educação crítica, o fortalecimento das instituições democráticas e a promoção do acesso à informação independente e diversificada.
"Albardeiro"