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albardeiro

Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!

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Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!

O pargum, espécie protegida nacional

albardeiro, 27.11.15

Atente-se: "O pargum é um peixe português. Portugal é um país de peixe, como toda a gente sabe. Há anos falou-se muito do cherne. Hoje falo do pargum. O pargum julga ser um pargo, mas não é. É um pargum. O pargum é um peixe muito abundante nas águas nacionais. Tem duas características. A primeira é andar sempre pela direita. Tanto anda pela direita, que acaba sempre às voltas e voltas, em círculos intermináveis, a ver se se reencontra, e ninguém o convence de que há outros sentidos. A segunda é a sua obsessão pela legitimidade. O pargum só aceita o que diz ser legítimo, mesmo que irracional e ridículo. Olha para os pargos e só quer branquinhos, e diz que são "legítimos". Os outros, despreza-os e chama-os de "mulatos". Olha para os outros peixes e pronto, é "monhés", é "pretos", é "ciganada", é um chorrilho de insultos, mesmo que se trate dos líderes eleitos do cardume. Os parguns marcaram uma manifestação para sábado, na qual irão dar à guelra a recusar "um governo ilegítimo". Ontem um grande pargum até falou na televisão e tudo, dizendo que a educação legítima de um pargo é como Deus quer e não de outro modo. O pargum é um peixe que se autoproclama de águas límpidas e pouco profundas. Porém, é na verdade um peixe que vive nas profundezas, onde só vê, respira e se alimenta de lodo e caca, o que lhe transforma irremediavelmente os poucos miolos nisso mesmo. Porque é que o pargum é uma espécie protegida em Portugal? Ninguém sabe nem compreende. Mas é-o, e muito. Pela comunicação social pargum, por comentadores parguns e, até, pelo velho pargum-mor, que se julga um presidente dos pargos, mas não é. É apenas o maior dos parguns. E porque tem o pargum o nome de pargum? Há quem diga que pargum é uma corruptela de pargo combinada com um fenómeno fonético chamado de rotacismo, que transmuta sons de consoantes (comum, por exemplo, na evolução do latim para o português). Neste caso, de v em g. Outros evocam explicações mais populares para explicar o pargum. Entre outras, por ser estúpido como um atum. Eis o pargum. Nada temam, que não está em risco de extinção. Quem nos dera".

(Esta prosa e outros "bacalhaus" pode ser encontrada aqui: http://jugular.blogs.sapo.pt/)

Do JUMENTO

albardeiro, 27.11.15
Atente-se: "Se um presidente enlouquecer, deixar de estar na posse das capacidades intelectuais de que dispunha quando foi eleito, o que se pode fazer? E que circunstâncias um presidente que já não está em condições para exercer o seu mandato pode ser destituído. O normal seria o próprio resignar mas a verdade é que raramente um idoso que perde capacidades o reconhece, muitas vezes as pessoas nestas condições ficam teimosas e não admira que Salazar tenha morrido convencido que que ainda era Presidente do Conselho. Outra solução seria serem os familiares ou os mais próximos a convencerem-nos a resignar, mas nada nos garante que o apego ao poder não leve essas pessoas a preferir chamar a si os poderes presidenciais.
 
Um cidadão comum é obrigado a fazer exames médicos quando pretende renovar a  carta com 60 anos, isto é, para conduzir um automóvel considera-se que se deve fazer prova das capacidades físicas e intelectuais. Mas para conduzir um país e para assumir a imensa sobrecarga de trabalho que representa ser presidente de um país não é feita qualquer exigência. 
  
Não vou aqui questionar as capacidades intelectuais de Cavaco Silva, até porque nunca as tive em grande consideração e quanto aos seus valores não me parece que difiram muito em função da sua saúde mental. Mas toda a gente viu como a mão lhe tremia há já dez anos atrás, no debate eleitoral frente a Mário Soares. Foi notória não só a tremura da mão que levou Cavaco a segurá-la com a outra e mesmo a escondê-la debaixo da mesa. É também óbvio que em muitas circunstâncias a esposa o tenha de agarrar, gesto que muitos jornalistas interpretam como paixão. É ainda evidente a diferença entre o discurso oral de Cavaco escrito ou preparado com antecedência, com as suas intervenções espontâneas, algumas das quais roçam o ridículo, como a alegria das vacas da Graciosa na sala de ordenha.
  
A verdade é que já nem a China tem um presidente com a sua idade, o presidente chinês nasceu em 1953, o ditador da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, é de 1942, do mesmo ano é Michel Kafando do Burkina Faso e com mais idade do que o nosso Cavaco só encontrei a rainha de Inglaterra, uma senhora com um bom senso e uma inteligência que nem em novo vimos em Cavaco.
  
Esta questão já não faz sentido ser colocada a dois meses de o senhor se reformar e poder gozar das suas pensões, mas talvez merecesse algum debate pois em muitos momentos Cavaco deixou a imagem de parecer estar a ser manietado. Quando Passos Coelho saia da audiência com Cavaco Silva dizendo o que Cavaco deve fazer e no dia seguinte o ainda presidente faz precisamente o que Passos tinha dito, é tão legítimo sugerir que Cavaco lhe disse o que ia fazer, como pensar que Cavaco fez o que Passos lhe mandou. Aliás, essa dúvida tem sido uma constante ao longo de todo o segundo mandato presidencial.

Não faz sentido que alguém que provocou um crash na bolsa e que tenha andado a "vender" lixo tóxico do BES a investidores incautos fale agora de estabilidade do sistema financeiro. Não faz sentido que um presidente sem alternativas ponha condições a uma maioria parlamentar. Não faz sentido que alguém que empossou um governo contra a vontade de uma maioria parlamentar venha agora exigir estabilidade a um governo com o apoio dessa maioria. Nada em cavaco faz sentido, o seu comportamento nos últimos meses não podem ser entendidos no domínio da racionalidade.
 
Felizmente esta questão já só é meramente especulativa, num tempo em que Cavaco coloca condições as dúvidas residem nas condições em que está o próprio Cavaco".
 
(Não se resisti, tinha que pôr cá tudo aquilo que o http://jumento.blogspot.pt/ disse, é merecido!)  

COMO SE…

albardeiro, 17.11.15

A histeria com que a direita encarou o acordo a que chegaram os partidos de esquerda para apoiar um governo de António Costa é bem reveladora do que está em jogo. Tudo serviu para esconder a evidência do resultado das últimas eleições: a esquerda ganhou (apesar de tudo) e a direita perdeu (depois de tudo). E foi a constatação deste facto elementar que levou a esquerda a unir-se e a direita a desesperar, recorrendo a todo o tipo de diatribes, desde o puro e simples insulto, à descabelada ameaça da eminência de um PREC II, até às disparatadas acusações de ilegitimidade.

Como se o desejo de inverter o processo de empobrecimento e degradação da vida dos portugueses fosse um despautério (afinal, em que país vivem os dirigentes do PSD e CDS?), como se a ambição de devolver salários, pensões e reformas cortadas pelo governo cessante fosse um absurdo (afinal que interesses servia a direita no poder?), como se o anseio de ter serviços públicos universais e de qualidade fosse um desvario e como se o propósito de diminuir as desigualdades e injustiças sociais fosse um crime (de resto, tudo extravagâncias mais do que condicionadas pelo espartilho orçamental imposto por esta União Europeia dominada pela cartilha neoliberal).

Como se uma maioria parlamentar de esquerda não pudesse ter a mesma capacidade decisória que a maioria de direita que nos tem governado. Como se a direita tivesse o monopólio da governação e a esquerda estivesse condenada a um estado permanente de vassalagem política. Como se a responsabilidade e o patriotismo tivessem cor partidária. Como se não fosse essencial contribuir para a construção de uma Europa dos cidadãos que coloque os interesses económico-financeiros no seu devido lugar. Como se não fosse urgente reabilitar a democracia europeia, resgatando-a da permanente chantagem dos “mercados” que fazem da soberania popular uma caricatura e das eleições uma mera recomposição dos mesmos ditames. Lembremo-nos da afirmação taxativa do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, sobre eleições do passado dia 4 de outubro, “A situação para Portugal não muda. A situação económica e financeira não muda de um dia para o outro devido às eleições. Por isso, não creio que haja razão para uma grande mudança de política neste momento.”, reiterando a posição assumida pelo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble – “As eleições não mudam nada” – a propósito do anterior processo eleitoral grego.

A dirigente do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, em entrevista ao Público (13/11/2015), enunciou o fundamental sobre a atitude da direita portuguesa: “O enorme medo da direita é que se prove que afinal havia alternativa.” Mas para isso, a esquerda portuguesa tem que assentar num programa mínimo de convergência que, preservando a identidade e as reivindicações de cada uma das formações políticas, coloque o projeto comum como prioridade absoluta. Ater-se ao essencial (prescindindo mesmo, se necessário for, de alguns propósitos) é condição sine qua non para a durabilidade – não só desejável, mas vital – da esquerda. Como disse sabiamente José Pacheco Pereira a propósito deste “casamento” dos partidos da esquerda, “há uma coisa que os esposos devem ter clara na sua cabeça, escrita em letras de fogo, tatuada nas mãos e nos braços, para que estejam sempre a ver, é que o divórcio será muito mais gravoso e penoso.” (Público, 31/10/2015), acrescentando que, para que um governo de esquerda resulte, tem de “governar razoavelmente, onde o ótimo é inimigo do bom”. Se isso acontecer, Pacheco Pereira não tem dúvidas em considerar que “provocará um ponto sem retorno na vida política portuguesa.” A alternativa é uma irremediável perpetuação da direita mais revanchista no poder e o aniquilamento da capacidade da esquerda em protagonizar outros caminhos para a nossa sociedade.

Passos Coelho chama a este entendimento político, “autêntico reviralho”. Pois que seja!

 

                                                                                                         Hugo Fernandez