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albardeiro

Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!

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Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!

CIDADANIA

albardeiro, 06.05.14

 

Em democracia pode alguém escolher não ser cidadão? Faz sentido abdicar da capacidade de escolher os governantes como forma de protesto contra a governação? É razoável prescindir de um direito tão fundamental como o do voto e abster-se do dever de participar na vida coletiva, isto é, na vida de todos e de cada um de nós? Podemo-nos dar ao luxo de prescindir do exercício da liberdade de opinião relativamente aqueles que, mal ou bem (e quer queiramos, quer não) nos vão representar? Não nos chegam a dúzia de partidos que, cobrindo todo o espetro político e tendo as mais variadas características e motivações (desde a abordagem transversal dos catch-all parties aos mais focados single-issue parties)têm vindo a concorrer aos sufrágios da democracia portuguesa? Não nos chegam? Ainda temos a possibilidade de optar pelo voto em branco (para os mais indecisos ou revoltados) ou, para os mais idiossincráticos, pelo voto nulo. Não será isto suficiente?

A abstenção é prescindir de dar opinião, é pura desistência. É condição servil, acomodada à tranquilidade despudorada da ignorância ou da desfaçatez. Na sua aparente passividade – mas incomensurável soberba – os abstencionistas são preciosos amparos dos poderes instituídos e implacáveis algozes dos seus compatriotas. Pela desgraça que promove, a recusa da cidadania é tão perigosa como a ideia de que o Poder é adquirir a possibilidade de fazer o que se entende sem ter que prestar contas a ninguém, quebrando compromissos e faltando às promessas feitas. Ambas corroem a sociedade e ostracizam os cidadãos, destruindo de forma inapelável qualquer veleidade democrática ou qualquer princípio básico de salus populi e de preservação do bem comum. Pactua-se com o arbítrio e a injustiça, aceitando-se cobardemente todos os desmandos dos mais poderosos a coberto de afirmações falaciosas como “os políticos são todos iguais” ou “a minha política é o trabalho”. Alguém quererá regressar aos tempos da castração das consciências e do imprimatur (“publique-se”) censório? Queremos abdicar de ser gente? É que, como Max Weber disse sabiamente um dia, “neutro é quem já se decidiu pelo mais forte”.

Hugo Fernandez