Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!
Quinta-feira, 30 de Setembro de 2010
Mar Salgado
O NOVO PORTUGAL (I):
Dizem que é proibido, não sei. O que sei é que temos de ajustar contas. Sonho com um país novamente rural, carregado de aldeias e vinhas e pomares e miúdas engravidadas por magarefes que se casam com elas. Os campos seriam lavrados pelos estudantes (que ainda há pouco de lá saíram), ficariam apenas alguns a aprender medicina e direito e pouco mais. O programa é extenso, neste número traçarei apenas as fundações. Regionalização? Pois claro. Não dez, ou vinte, mas mil. Uma vila, um juiz, um cabo da guarda e um bacharel roedor. Como? Centros comerciais e despachantes oficiais das empresas municipalizadas? Gozais. Dos Dolce Vita faremos pedra para separar os lameiros e a rataria terá muito trabalho. A partir a pedra. A estética? Bigodes e socas (já usam havaianas e argolas no nariz, não hão-de notar a diferença).
O NOVO PORTUGAL (II):
Um velho amigo mete-se comigo (ver comentários ao número anterior) por causa da lavoura. Claro que sim. Nunca deixámos de ser um povo de lavradores, pastores e pescadores. O comércio veio por causa dos excedentes e não devido a qualquer sinapse empresarial. Somos lavradores ao volante de um SLK, pastores dentro de um spa e peixeiras em qualquer discussão. Sonho com o regresso da calma e dos limites. A religião pode continuar a ser a católica. Uma mulher, oficial e recatada, para cada um obriga os homens a competir no mercado dos bastardos. É bom para a raça. A higiene e os modos na cama também agradecem. Vou na rua e perguntam-me: e então o parlamento, os partidos e essas superestruturas todas? Que ingenuidade. Num país de novo entregue a produzir o que come, a deitar-se cedo e a passar os domingos na missa e em belos almoços debaixo da parreira, para que servem parlamento e partidos?
Outra infantilidade é julgar este novo Portugal o velho Portugal. Não compreendem que estas propostas não representam uma idealização do Portugal novecentista. Este novo Portugal é uma máquina do tempo: fui lá, não gostei e volto atrás. Mas regresso diferente, muito diferente.
O NOVO PORTUGAL (III):
Não temos jazidas preciosas nem recursos naturais em quantidade suficiente (o território é minúsculo), não temos nenhuma indústria que qualquer outro país não suplante facilmente, estamos envelhecidos, nasce menos de uma criança por cada par de amancebados e o estrangeiro não nos vai ajudar nos próximos 30 anos.
Em que é que somos realmente bons? Ora pensem. Todo o português sabe fazer pelo menos uma das seguintes coisas:
a) Plantar couves, batatas e vinha;
b) Caçar;
c) Pescar;
d) Falar.
Não estamos habituados a cindir o átomo, desenhar aviões, inventar remédios milagrosos ou escrever manuais de filosofia. O novo Portugal será novo porque descobrirá as suas capacidades. Descobrir é inovar, não é?
A subsistência ficará assegurada. É melhor uma cave com batatas do que vária contas a descoberto. A organização será feita a partir da base. Aqueles portugueses que só sabem falar (deputados, candidatos, comentadores, etc) serão muito úteis. Formarão centenas de equipas que ligarão todas as vilas, cidades e aldeias, transmitindo pessoalmente as mensagens dos seus compatriotas: um verdadeiro LMS - long message service.
O mar salgado aponta o caminho
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