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albardeiro

Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!

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Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!

PORTUGAL CONTEMPORÂNEO

albardeiro, 30.09.09

Sobre o Sr. Professor e os seus pupilos!!


A direita indígena, sobretudo a do PSD, e as desventuras do Presidente da República, o cidadão Aníbal Cavaco Silva. Ao longo de vinte e cinco anos de humilhante sujeição, durante os quais, com raríssimas excepções, não deu um pio para questionar o líder incontestável, essa direita do PSD rastejou aos pés de Cavaco, subjugou-se a Cavaco, não deu um passo sem antes perscrutar as palavras de S. Ex.ª, os silêncios de S. Ex.ª, os recados de S. Ex.ª, os esgares e os trejeitos de S. Ex.ª, para lhe tentar adivinhar as vontades e as intenções. Quando S. Ex.ª anunciou a retirada da vida política, lá para os idos de 1995, logo um coro de lamentações se ergueu. No momento imediato, todos, mas todos sem excepção, eram filhos e herdeiros de Cavaco, sugerindo intimidade com S. Ex.ª, e garantindo fidelidade aos princípios, ao pensamento e à acção de S. Ex.ª. Quando a Excelência se remeteu a um longo silêncio sobre o seu futuro político (que negava peremptoriamente poder existir), todos proclamaram em vozes circunspectas e em tom de surdina – para não sobressaltar S. Ex.ª – que ninguém – ninguém! – tinha autoridade ou legitimidade para exigir a S. Ex.ª que despertasse da letargia a que humanamente se dedicara. O tempo era de S. Ex.ª, e tudo que a pudesse importunar não seria admissível. Quando S. Ex.ª anunciou a parábola política da “moeda boa e da moeda má”, logo os inúmeros admiradores venerandos de S. Ex.ª exultaram de gozo e rejubilaram de prazer. S. Ex.ª estava viva e atenta, e pusera na devida ordem alguns seres inferiores que não lhe tinham o amor e a devoção necessários à contemplação da sua magnificência. Mas, o orgasmo total, o prazer máximo e absoluto, o delírio, o êxtase, o Nirvana chegaram – finalmente – num dia de nevoeiro, quando S. Ex.ª anunciou no Mausoléu de Belém, que anos antes mandara erguer para perpetuar a sua Glória, que regressaria ao convívio dos simples e mortais. Regressou em ombros, em apoteose, em triunfo, sobre um tapete rastejante de admiradores, discípulos e servos esperançados. S. Ex.ª vinha pôr isto na ordem!


Agora, S. Ex.ª parece outro. Já não tem aquela afirmação e autoridade que antes todos lhe viam e temiam. Já não manda, nem comanda. E há mesmo quem lhe falte ao respeito e que garanta que ele é, como Sócrates, humano, logo, mortal. Como Sócrates, o outro, claro, não o nosso que está a um pequeno passo de comprovar a sua imortalidade política, própria de uma nova e irresistível Excelência. Cavaco já sai depreciativamente nas primeiras páginas dos jornais, logo ele, que antigamente nem os lia, e faz até comunicações ao povo para os comentar, como um vulgar comentador político. Como se o povo estivesse interessado no que diz, que não fosse para o desdizer. O Cavaquencis Excelentissimus já era, e a direita do PSD tem que lhe arrear, arrear tão ou mais forte, se possível, do que a concorrência. Ao fim de vinte e cinco anos de humilhante sujeição, tem que demonstrar que tem vida própria e que não depende dele para nada. Que ele até lhe é prejudicial e que, se calhar, as eleições foram perdidas pela sua nefasta influência, já que o partido, o PÊÉSSEDÊ, não teve nisso qualquer responsabilidade. Em contrapartida, há quem ache conveniente não o apoiar nas próximas eleições presidenciais. Se bem que o melhor, o que era mesmo conveniente,caso o homem tivesse um lampejo de lucidez, seria nem se candidatar, ir-se embora, emigrar para o Pulo do Lobo, e quanto mais depressa melhor. Esta direita sensata repele e incomoda. É um nojo.


PORTUGAL CONTEMPORÂNEO: diário de um país visto à distãncia

Sobre o tempo que passa...!

albardeiro, 10.09.09

A Convençaõ do PS (...), assumiu ritmo esotérico, denunciando a heresia maneleira, porque a mesma usurparia o título divino quando diz "Eu sou a Verdade". E, ao milenarismo, responderam com o serem avançados, naõ sei se mentais. Uns estão na Utopia (do Maio 68), outros no Milénio. Uns querem a planificação dos iluminados, outros, a tempestade que nos afastará dos pecados. Uns com nostalgia da Mãe, outros, com saudades do Pai...


Por tanta escatologia é que a líder do PSD se enreda em coisas como as que foi dizer ao "bastião inamovível" do "bom governo PSD", a Madeira, onde não haveria asfixia democrática, dada a existência de jornais da oposição. Por outras palavras, admite a ditadura das maiorias, porque tudo mede com o voto que tudo ordena. Eu pensava que, na democracia, interessava menos a resposta ao quem manda e mais ao como se controla o poder dos que mandam. Mas compreendo, a principal líder da oposição estava a querer mandar uma de subliminar para a questão da M. M. Guedes, coisa de que discordo, porque o Jornal Nacional da TVI de sexta não era propriamente a voz da oposição...


A hipocrisia inquisitorial ainda manda que ninguém manifeste sinais exteriores das suas convicções íntimas. Porque nunca extirpámos a raiz dessa servidão voluntária, mantendo a fortaleza do Rossio mesmo depois dos decretos estaduais que extinguiram a polícia do pensamento. Porque permaneceu o sub-sistema de medo dentro de cada um, venceram os adesivos e os viracasacas...


Depois de despotismos iluminados de curta duração, sucedem-se quase sempre viradeiras de provisórios definitivos, como foi o salazarismo, onde há sempre pinas maniques e preconceitos de ordem que, através do neofeudalismo da anarquia ordenada, permitem a continuidade dos familiares, dos moscas, dos formigas e dos bufos. Infelizmente ainda somos pós-inquisitoriais, pós-autoritários e pós-totalitários. Temos medo!


Só podia mesmo ser SOBRE O TEMPO QUE PASSA (Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...)

DEBATES ELEITORAIS & COMENTADORES: O RANÇO*

albardeiro, 07.09.09

“Não sei o que é o homem. Só sei o seu preço” [Brecht]


Os debates eleitorais se fossem feitos num país civilizado e comentados por criaturas intelectualmente genuínas, e não (como é o caso indígena) por sopradores ideologicamente ridículos ou maníacos ignorantes, teriam dignidade responsável e estima acrescida. Porém, cá pela paróquia espanejam-se nos jornais e, principalmente, alapam-se nas TV’s um curioso raminho de criaturas barulhentas (uma estrebaria quase se assemelha a um lugar de êxtase) e que recitam, todos e de igual modo (lembrando a velha Mocidade Portuguesa), os intelectivos complementos dos seus triunfantes repertórios partidários.


Os factos, as argumentações e os episódios ocorridos entre os candidatos eleitorais, passam a ser para esses prodigiosos comentadores, de imediato, um lugar de desabrida arena partidária e um grave reduto de comunhão geral de ignorância e de iliteracia. Os comentadores que temos são quase sempre ignorantes e nada prudentes, pouco estudiosos e muito vaidosos, indigentes e nada sensatos. Sem nunca transportar o cidadão para a matéria e o desafio que o orador propôs, referindo o cuidado conceptual exposto e as impressões ou erros que o contraditório esgrimiu, os nossos dobrados comentadores-políticos travam de imediato a (sua) dura peleja contra o presumido adversário ideológico, como se fossem eles sábios e talentosos dirigentes partidários. Tais especiosos agitadores, que na maioria das vezes nem sabem do que estão a falar, diriam sempre idênticos superlativos, mesmo se o debate nunca tivesse existido. A cassete, essa, está sempre lá.


Veja-se, sobre o assunto, o prosaísmo dessa laudatória criatura, de nome João Vieira Pereira (Expresso, p. 8), que, qual vendedor de banha da cobra, afirma, em comentário ao debate Sócrates-Portas:"... este era porventura o mais difícil debate que Sócrates tinha pela frente, daqui em diante terá alguns passeios no parque com os restantes candidatos, inclusive com Manuel Ferreira Leite" [sic]. Escreve esta genialidade num jornal de referência. Bem-humorado e beneficente anda o rapaz, Henrique Monteiro.


Porém, o máximo exibicionismo dessa fancaria televisiva teve (ontem) lugar após o (apenas) melhor e mais esclarecedor debate, até à data, patrocinado por Louçã e Ferreira Leite. Em todas as TV’s (SIC-N, RTPN e TVI7), qual barraca de feira, divinamente surgiram um raminho de comentadores da boa escola da superstição liberal, quase sempre desleixados no belo argumento, que com respigadas tiradas garganteadas de remotos tempos económicos e com cabotina espuma labial, trataram o dr. Louçã com o desprezo e a idiotia que a D. Manuela não personificou.


O mundo dessas criaturas - com especial relevância para o ridículo João Duque, a bafienta Inês Serra Lopes, o mastigado Joaquim Aguiar ou aquele jovem decorativo que a RTPN nos deu a conhecer e que garante que os "custos salariais" das PME são mais determinantes para elas que os seus "custos financeiros" (o garrote financeiro das PME é para esse iluminado fruto, unicamente, da Lei Laboral) -, que nunca foram gestores de coisa alguma e nem a isso se candidataram, o mundo (económico e social) para tais sábios parou no tempo. Eis o ranço desses novos Velhos do Restelo!


Quando o sábio Joaquim Aguiar, em defesa do seu patrão Mello e sobre um pacífico assunto (pelo menos nos países civilizados) sobre a detenção pelo Estado de bens essenciais (referido por Louçã), regressa em assombro a 1975 (e cita até Melo Antunes), diz bem o atoleiro em que a saudosista e indigente intelectualidade nos meteu. E de que não há saída.


(*) O Almocreve das Petas no seu melhor

ANYTHING GOES

albardeiro, 02.09.09
Na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide, o ex-líder parlamentar deste partido, Paulo Rangel, expressou um entendimento muito particular sobre o que devem ser as relações entre a política e a ética, defendendo aquilo que na nossa opinião é verdadeiramente indefensável. Insurgindo-se contra aqueles que apelidou de “paladinos da ética”, que consideram que arguidos em processos judiciais não deverão ser candidatos a deputados ou autarquias, Rangel, fazendo uso da mais completa desfaçatez e revelando um total oportunismo político, sustentou que “há situações e situações e que devem ser ponderadas umas e outras” (Público, 27/8/09). Seguiu nesta atitude, aliás, aquilo que Manuela Ferreira Leite já tinha defendido aquando da polémica sobre o processo de constituição das listas de candidatos às próximas eleições legislativas, alegando que não compete aos dirigentes partidários julgar os procedimentos dos seus correligionários e consequentemente não ser da sua competência condenar quem quer que seja. Quer um, quer outro, estão, portanto, a “assobiar para o lado”.
Na defesa da sua posição, Rangel vai mesmo mais longe, concluindo com uma frase lapidar que é simultaneamente reveladora de enorme cinismo: “A credibilidade da política não está na ética”! Não podíamos estar mais em desacordo. Fazendo uso da perigosa lógica utilitarista segundo a qual “os fins justificam os meios”, desvalorizam-se, desta forma, alegações de corrupção, branqueamento de capitais, abuso de poderes ou falsificação de documentos. Com efeito, se há preocupação fundamental a preservar na actuação política é a da observância dos princípios de seriedade e rigor, que garantam a indispensável transparência na gestão da coisa pública. Nestes pressupostos éticos assenta, precisamente, todo o sistema de representação política em democracia e a confiança que tem que existir entre governados e governantes. Diríamos mesmo que é a “dimensão ética” da política que permite transmitir a esta última a dignidade de que tantas vezes – demasiadas vezes! – carece. Caso contrário, são os interesses pessoais que se sobrepõem à defesa do “bem comum”, fazendo com que os princípios e valores da governação se submetam a meras lógicas instrumentais e à ganância mais desmedida.
A constituição de arguido ou a pronúncia por parte do Ministério Público pressupõem sempre a existência de fortes indícios da prática de crime, confirmados ou não em tribunal. Esta situação em nada afecta o princípio básico de justiça da presunção da inocência até trânsito em julgado. Implica, no entanto, o dever de reserva em termos de actuação pública, em defesa do prestígio da função desempenhada. Esta preocupação devia, aliás, partir dos próprios implicados e, desta forma, concorrer para a sua dignificação. Uma vez concluído o escrutínio da actuação em causa e ilibadas as suspeitas, subjazia a nobreza de carácter do envolvido e a possibilidade acrescida de reabilitação política. Como as coisas estão, apenas sobram a falta de escrúpulos, o descaramento e a cupidez.
Há, em todo o caso, que salvaguardar a indispensável separação entre a dimensão privada e pública da vida individual. Esse constitui, aliás, um dos princípios básicos da cidadania. É evidente que não se advoga o puritanismo beato do sistema político norte-americano, que postula um padrão moral para as condutas privadas, o que não pode deixar de constituir uma intromissão intolerável na vida de cada um. Só a actuação pública interessa certificar. A esfera privada apenas interessará na medida em que as atitudes aí desenvolvidas tiverem repercussões públicas, ou resultarem em notório prejuízo público. É o caso, por exemplo, da fuga ao fisco ou do incumprimento de outras normas legais em vigor. Ou então quando contraditarem, de forma flagrante, o discurso político veiculado publicamente, no preciso sentido que lhe dá o ditado popular, “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”. Por exemplo, uma anti-abortista, praticar voluntariamente um aborto ou um notório homofóbico ser, afinal, um homossexual. Caso contrário, o que é privado é privado e o que é público, é público. Só assim se evita a institucionalização do espírito inquisitorial e o alastrar da paranóia moralista e das cruzadas purificadoras contra todos aqueles que não se comportem segundo o padrão dominante.
Estas ressalvas permitem perceber que, para além dos limites legais, têm que haver constrangimentos éticos na actuação pública. Nem tudo se pode fazer e sobretudo nem tudo é lícito que seja feito. A célebre máxima pós-moderna do “anything goes” não pode transformar-se em regra política, sob pena de premiarmos criminosos e penalizarmos todos aqueles que o não são.

Hugo Fernandez