Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!
Quinta-feira, 29 de Setembro de 2005
Nova DECLARAÇÃO (requentada) AO BAIRRO E À NAÇÃO

Não posso mais...!


Contra os candidatos mediocres!


Libelo da minha recandidatura!*


Votem em mim. Eu não sou um qualquer candidato, vocês sabem, sou um candidato completo e categórico. Votem, vamos, deixem o sonho levar-vos e façam a escolha certa. É inteiramente grátis, é só votarem e relaxarem. Vá lá, digam para vocês próprios: nós merecemos este candidato. E votem com amor. Votem numa boa. Votem com tudo. Votem no melhor. Votem naquele que sabe. Votem naquele que faz. Votem naquele que dá alegria. Sim, porque os bons tempos vão regressar e o futuro é aqui. Votem, eu sou a protecção que vocês precisam, na medida exacta. Votem em mim (adoro falar assim!) e sintam-se secas protegidas e seguras. Palavra, acreditem, nunca foi tão bom votar. Por isso, revelem as estrelas que existem em vocês: votem em mim!


Não? Vocês não vão votar em mim? Nem em ninguém? Mas porquê essa descrença? Isso assim não irá resolver nada. Escutem-me, por favor. Vocês ainda não estão a par, mas a descrença é o grande mal da humanidade. Existem coisas que vocês ainda não sabem, mas acho que chegou a hora da grande revelação. Olhem, vocês devem, sim, votar em mim, porque eu sou o vosso candidato e só através de mim se chegará à autentica democracia. Há ainda mais coisas que eu ainda não vos mostrei. Não vos mostrei, por exemplo, que sem a democracia as trevas e o “mal” tomarão conta de tudo e o mal irá reinar por mil anos. É a verdade, palavra de candidato. E aqueles que não acreditarem na verdade carregarão para sempre o arrependimento. Vocês irão fazer uma escolha importante, a mais importante de todas. De um lado, os ímpios, os infiéis... Do outro, nós, os que votarem em mim. Porque, votando em mim, o vosso dinheiro surgirá... tipo “maná”. Por exemplo, as vossas dores desaparecerão. O vosso IRS diminuirá e outros “acessórios” do género. Os vossos filhos deixarão de se depravar e a velhice e afins dos vossos pais desaparecerá. Votem em mim porque, se existem problemas, eu serei o caminho certo e o curativo.


Nem assim? Mas por quê? O que é que eu preciso de fazer para vocês votarem em mim, criaturas? Não, calma, não nos vamos precipitar. Eu tenho uma ideia (aviso que tenho mais!). Escutem-me, escutem-me. E, se eu vos pedir com jeitinho, vocês votam? Hein? Hum? O que passou, passou, O.K.? Vamos combinar assim, de agora em diante, vocês votam em mim e eu reciclarei (é politicamente correcto) em “apetitoso” tudo o que vocês pedirem, tudo o que vocês quiserem. E eu sei o que é que vocês querem. Sei que vocês só pensaram em não votar em mim porque não imaginavam que eu sou eternamente deslumbrante, incontestavelmente apaixonante, indiscutivelmente meloso e suave, indecepcionavelmente inolvidável. Alguma vez nas vossas vidas eleitorais vocês já votaram em alguém assim, especialmente só para vocês? Confessem, vá lá! Confessem que vocês já estão doidinhos para votarem em mim. Então?, venham logo, venham! Já imaginaram? Vocês votando em mim, só em mim, e eu realizando todas as vossas fantasias, honrando tudo o que vocês mandarem, assim, agora, sem tirar nem pôr!


Mas como é que é? Não vão mesmo votar em mim? Não há hipótese? A vossa decisão está tomada e o assunto encerrado? Pois olhem, acho melhor vocês pensarem bem no que vão fazer. Depois pode ser tarde demais. Vocês tem família, não têm? Mulher, sogra, filhos. Eu sei. Eu sei onde vocês moram. Eu sei que os vossos filhos estão a frequentar aquela escola... que devia estar mais perto de casa. Vocês não gostariam que acontecesse alguma coisa..., gostariam? Claro que não. Nem eu. E, vocês votando em mim, eu irei cuidar da segurança do bairro. Pessoalmente... sim pessoalmente. O que é que julgam que eu sou? Vocês querem acabar com a violência, não querem? Então, votem em mim e vocês vão estar seguros. Eu garanto-vos. Mas, se eu não for eleito, aí, aí... não me responsabilizo. Pode acontecer de tudo aqui. E vai acontecer de tudo aqui. Mas vocês não querem que aconteça de tudo aqui, querem? Não, não querem. Eu sei. Por isso vão votar em mim, não vão? E ajudar-me-ão, claro que sim, não é? Vão até arranjar mais votos para mim. Nas vossas famílias, nos vossos locais de trabalho, na vizinhança. Parece que já estou a ver, vocês e os vossos filhos a fazerem campanha. Palavra, eu começo a ficar até emocionado só de imaginar tal situação. Porreiro, assim é que se fala. Obrigado pelo vosso voto. Eu não os irei decepcionar. Dou-vos a minha palavra. Palavra de candidato!


Psº; Outra coisa! Não admito perguntas, pois tudo já foi explicado. Afinal, eu sou o melhor...


* Texto publicitado neste BLOG em Novembro de 2004



publicado por albardeiro às 17:38
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Quarta-feira, 21 de Setembro de 2005
POBREZA E DEMOCRACIA

O “outro” Albardeiro que é o Hugo Fernandez, traz-nos outro texto… um texto que escalpeliza uma “coisa banal”. Aliás, por paradoxo,de tanto banal é demasiado séria e incontornáveis as suas fronteiras, a saber: a convivência da democracia política com níveis extremos de pobreza e de desigualdades sociais! Cá para mim a ilação… salta à frente dos olhos: a pobreza e a desigualdade, além de serem deficits sociais, são também deficits democráticos e afectam perversamente o exercício da cidadania nas suas várias dimensões: civil, política e social. Como já alguém disse com toda a propriedade – a democracia está sequestrada!


A LER COM…!


Foi recentemente divulgado pelas Nações Unidas o Relatório sobre o Desenvolvimento Humano 2005. Este documento foi lançado uma semana antes da histórica Cimeira Mundial de Setembro, que reuniu em Nova Iorque o maior número de dirigentes de sempre e que simultaneamente serviu para comemorar o 60º aniversário da ONU – o forum internacional mais importante da humanidade. Destinado à reforma da organização, tendo em vista os desafios do século XXI, esta cimeira fez a avaliação das medidas tomadas para atingir os “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, estabelecidos há cinco anos atrás e que visavam principalmente a luta contra a pobreza mundial.


Ora, no referido Relatório, constata-se que não só a pobreza não está a diminuir, como o fosso de desenvolvimento entre países ricos e pobres se tem vindo a agravar. Com efeito, quarenta por cento da população mundial ainda subsiste na pobreza e, em relação ao índice de desenvolvimento humano, 18 países – representando cerca de 460 milhões de pessoas – viram a sua situação piorar em relação à posição que ocupavam em 1990. Cerca de 80 por cento do PIB a nível mundial pertence aos mil milhões de pessoas que vivem nos países desenvolvidos, sendo os restantes 20 por cento distribuídos pelos outros cinco mil milhões de indivíduos que compõem a Humanidade. Um indicador basta para demonstrar o grau de desigualdade existente; uma criança que hoje nasça na Zâmbia, tem menos probabilidades de viver mais de 30 anos do que uma criança nascida em Inglaterra… em 1840! Isto no seio de uma economia global cada vez mais próspera e quando se sabe que a produção mundial de alimentos triplicou desde os anos 70, havendo hoje recursos suficientes para alimentar todos os habitantes do nosso planeta, se estes fossem distribuídos equitativamente. Verifica-se, pelo contrário, que as situações de emergência alimentar aumentaram de uma média de 15 por ano, na década de 80, para mais de 30 por ano, desde 2000.


Como é possível que, nos dias de hoje, subsistam tamanhas disparidades? Num mundo em que uma minoria vive na superabundância e no desperdício, constata-se que há cada vez mais fome. Mais do que isso. Verifica-se que aqueles países que têm condições para solucionar o problema, são precisamente os mesmos que pretendem a manutenção e agravamento do actual status quo. Porquê? Em benefício de quem? É sintomático que, nas vésperas desta importante reunião, a administração americana tenha proposto centenas de emendas aos documentos de trabalho já elaborados e que tinham vindo a ser intensamente negociados pela comunidade internacional nos últimos seis meses. O governo norte-americano, através do seu controverso embaixador, John Bolton – nomeado para o cargo, recorde-se, directamente pelo presidente e sem a aprovação do Congresso – propôs que todo o documento já elaborado fosse “rasgado” para se começar tudo de novo. Recusou-se mesmo a avançar com qualquer negociação se as pretensões americanas não fossem atendidas. Não é de estranhar que assim aconteça. Este mesmo senhor afirmou, ainda antes da sua nomeação, com uma inacreditável falta de sentido ético e de tacto político e diplomático – e, principalmente, de cultura democrática – que a ONU só fazia falta “se servisse os interesses americanos”.


Embrulhadas na retórica, grata a Washington, da “democracia” e da “liberdade”, estas alterações tem um sentido bem definido. Implementar uma globalização selvagem, através da concorrência desenfreada e da desregulação dos mercados, com vista ao reforço da hegemonia americana e à prosperidade da sua economia. Uma das principais alterações propostas pelos E.U.A ao documento da ONU é precisamente a retirada de qualquer referência aos denominados “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, que se prendem com a intensificação de políticas internacionais no sentido da redução da pobreza extrema para metade, nos próximos 10 anos, o combate à sida e o acesso global à educação, propósitos que, de resto, foram aprovados pela generalidade dos líderes mundiais há cinco anos atrás. Alguns dos aspectos que suscitaram da parte do inefável Bolton uma completa rejeição, contam-se o compromisso (já assumido pela União Europeia) de aumentar em 0,7% do produto interno bruto até 2015, as contribuições dos países ricos destinadas à ajuda ao desenvolvimento e ao combate à pobreza. É difícil compaginar a recorrente critica americana ao excesso de burocracia, ineficácia e lentidão das decisões da organização – e que sempre serviu, aliás, como arma de arremesso para contestar a relevância do seu papel – e a recusa em aceitar qualquer menção a compromissos quantificados, a metas e objectivos concretos e palpáveis da acção da ONU.


Ora, verifica-se que dos países ricos que concordaram aplicar a taxa de 0,7% dos seus respectivos PIB em ajuda externa, apenas 5 cumpriram esse desiderato: Suécia, Noruega, Dinamarca, Holanda e Luxemburgo. Os E.U.A dão apenas 15 cêntimos e não 70 cêntimos por cada 100 dólares de PIB, o valor mais baixo entre todos os países ricos. A ajuda americana não representa mais do que 2 mil milhões de dólares. Se a compararmos com os 500 mil milhões de dólares que os E.U.A vão gastar com as suas forças armadas em 2005 (valor correspondente a metade do orçamento militar global de todos os países do mundo), vemos claramente que se trata de um esforço irrisório. Como denuncia o documento da ONU, os E.U.A têm “uma estratégia militar superdesenvolvida e uma estratégia para a segurança humana subdesenvolvida.”


Esta atitude verifica-se num contexto em que o diagnóstico das situações é claro e urge tomar decisões. No seu recente livro The End of Poverty, o reputado economista americano Jeffrey Sachs é claro quando diz que a pobreza, pelo menos aquela “pobreza que mata”, pode ser erradicada do mundo em 20 anos. Em entrevista à revista Pública (10/7/05), este conceituado académico – considerado pela Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo – considera que as descobertas científicas e tecnológicas nos dotaram de “meios absolutamente práticos, simples e provados para pôr termo a esta pobreza extrema.” E acrescenta: “Essa ajuda é modesta, não tem nada de heróico. O que choca é aquilo que nós poderíamos fazer – mas não fazemos.” Apresenta-nos, então, números impressionantes: mil milhões de pessoas vivem em pobreza extrema (1 em cada 6) e cerca de 25 mil pessoas morrem de fome por dia. Para termos uma ideia de como a pobreza é verdadeiramente uma obscenidade no mundo de hoje, Sachs revela-nos esta espantosa proporção: se os habitantes dos países ricos doassem anualmente 2,5 euros per capita, o montante angariado seria o suficiente para controlar a malária em África, doença que mata por ano 3 milhões de crianças.


Desta constatação decorre, desde logo, uma interrogação essencial; é aceitável a pobreza nos dias de hoje? De facto, o absurdo desta realidade não pode encontrar explicação numa qualquer incompetência ou negligência generalizadas, mas antes numa defesa encarniçada de um determinado modelo de organização das sociedades e das relações internacionais. Na mesma linha de actuação, a administração norte-americana também pretendeu fazer desaparecer do documento de 36 páginas, apresentado pelo actual Presidente da Assembleia Geral da ONU, o gabaronês Jean Ping, outras importantes matérias e iniciativas. É o caso das referências ao Tribunal Penal Internacional (de cuja jurisdição, aliás, os americanos conseguiram isentar os seus militares) ou o fim da proliferação de armas de destruição maciça e dos ensaios nucleares.


Pretenderam-se ainda retirar aspectos tão fundamentais como o “respeito pela natureza”, exigência decorrente do protocolo de Quioto e, está bem de ver, do mais elementar bom-senso. Talvez por isso, nove estados norte-americanos tenham já concordado, à revelia da política oficial de Washington, em reduzir as suas emissões de gases, para minorar o efeito de estufa e as alterações climáticas daí decorrentes, conforme noticia veiculada pelo The New York Times de 24 de Agosto. Mas, ainda assim, os estados de Connecticut, Delaware, Maine, Massachusetts, New Hampshire, New Jersey, New York, Rhode Island e Vermont, apenas concordaram controlar as emissões de dióxido de carbono ao nível das centrais termoeléctricas. É manifestamente insuficiente.


Há, aliás, uma triste ironia na coincidência temporal destes acontecimentos. Com o furacão Katrina, os americanos sentiram fortemente os efeitos do desrespeito pela Natureza. Mas sentiram bem mais do que isso. Os efeitos da devastação puseram a nu as clivagens de uma sociedade e de um sistema de vida que se revelam, afinal, insustentáveis. Como alguém disse, assistimos, nestas circunstâncias, aos “efeitos da hidrografia na sociologia”.


Mais do que nunca, a sociedade americana demonstrou a sua fragilidade e revelou um triste espectáculo – o da indigência. Mais ajuntamento de indivíduos do que verdadeira comunidade, os E.U.A revelaram nesta situação a falência do modelo neo-liberal, da competição desenfreada e da lógica do individualismo extremo – C. B. Macpherson numa obra clássica sobre a ideologia liberal chamava-lhe “individualismo possessivo” – que, como se vê, se revelou profundamente disruptor. O culto do eu e do “cada um por si”, a saga do self made man, livre das suas ligações comunitárias e obrigações sociais, levou ao “salve-se quem puder” e à proliferação de situações de extrema miséria. E, numa sociedade altamente desigualitária, muitos ficaram para trás. As declarações do senador Edward Kennedy são sintomáticas: “Os poderosos ventos desta tempestade arrancaram a máscara que escondeu dos nossos debates os muitos americanos que são deixados de fora e deixados para trás.” (Público 9/9/05).


Foi esta mesma lógica individualista e concorrencial que, retirando ao sector público qualquer capacidade de intervir em prol do bem comum, obstaculizando medidas efectivas de assistência e protecção social, de planeamento ou de preocupação comunitária, levou a ignorar, desde há mais de um ano, os repetidos avisos do Corpo de Engenharia Militar (e porque raios é que é um corpo militar que tem esta incumbência?!) sobre o estado de conservação dos diques que protegiam a cidade de Nova Orleães, concebidos para aguentar apenas tempestades de nível 3. Daqui também se seguiu a inevitável desorçamentação nas urgentes obras de reparação e reforço. Com efeito, do total do montante previsto, o Senado apenas aprovou metade, sendo que a proposta da Administração Bush não chegava a um terço do que estava inicialmente orçamentado. As obras não chegaram, sequer, a ser realizadas.


É esta mesmíssima lógica e forma de actuação típica do american way of life que não previu transportes colectivos, nem centros de alojamento, nem assistência médica, nem abastecimentos básicos, para todos aqueles que, à falta destes meios, vieram a estar, como se viu, completamente desprotegidos face à tragédia anunciada. Assistiram-se então a cenas que nos habituamos a ver apenas em países do Terceiro Mundo: pessoas morrerem por falta de assistência médica ou mesmo de fome, total incapacidade para socorrer as vítimas e resgatar os sobreviventes, paralisia dos serviços básicos, anarquia e banditismo generalizados, autoridades em fuga e impotentes para travar o caos.


A questão é recorrente. A ausência de qualquer plano de contingência revela muito mais do que incompetência ou negligência. Revela uma lógica societária e uma ideologia que demonstraram a sua falência. Nada foi feito porque nada estava previsto fazer. Como sempre tem acontecido, quem tinha posses resguardou-se e sobreviveu, quem não tinha soçobrou na morte, desespero e indignidade. As enormes divisões sociais, acrescidas das profundas clivagens raciais que atravessam os E.U.A, puderam revelar-se em toda a sua dimensão e crueza. Como disse Amílcar Correia no editorial do Público do passado dia 11 de Setembro, “Katrina pode não ser o furacão dos negros, mas é certamente o furacão dos pobres (…). E, em Nova Orleães, a maioria das vítimas é simultaneamente negra e pobre.” Este “furacão dos pobres” – expressão tragicamente feliz – mostrou-nos, afinal, a natureza da hiperpotência mundial. Aquele país que foi considerado um exemplo de cidadania e desenvolvimento social – um modelo de democracia, seguindo o credo democrático de Abraham Lincoln de um “governo do povo, pelo povo e para o povo” – encerra, afinal, enormes contradições e fragilidades. “Pobre país rico”, chamou-lhe Fernando Madrinha, em editorial do Courrier Internacional de 9 de Setembro. E, de facto, o que se passou em Nova Orleães remete-nos para a necessidade de questionar a relação entre as sociedades que se pretendem justas e desenvolvidas e a existência da pobreza. A democracia será compatível com a pobreza? O individualismo e a concorrência desenfreada devem-se sobrepor a preocupações colectivas de equidade e justiça social? Decididamente, pensamos que não. Até porque a manutenção e incremento constante das desigualdades sociais resultam naquilo a que todos pudemos assistir.


Não pode, por isso, deixar de ser uma triste ironia que, na cimeira mundial de Setembro, os E.U.A tenham pressionado os restantes membros das Nações Unidas no sentido de se comprometerem num generoso financiamento dum denominado “Fundo para a Democracia”. Mas que democracia é esta que não nasce do desenvolvimento? Que democracia é esta que se mantém à custa da miséria generalizada? Ou será que estamos a falar daquela “caricatura” de democracia que os americanos têm vindo a patrocinar ao longo dos tempos e um pouco por todo o mundo, desde as ditaduras sul-americanas, às autocracias árabes, aos mais recentes regimes corruptos do Leste europeu e da Ásia Central ou aos Governos fantoches do Iraque e do Afeganistão, com a preocupação exclusiva de salvaguardarem os seus interesses e sustentarem a sua economia predadora? Não é com certeza essa democracia que desejamos. E se, como Simão Bolívar disse um dia, “os Estados Unidos querem-nos sujeitar à miséria em nome da liberdade”, dessa liberdade, seguramente, também não precisamos.



publicado por albardeiro às 16:03
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Quinta-feira, 8 de Setembro de 2005
A ARMADILHA

Um texto do Hugo Fernandez ...o outro albardeiro!


A enviada especial do jornal Público, Maria João Guimarães, relata-nos uma conversa que teve, durante uma boleia, com uma reservista do exército israelita, de nome Moran de 23 anos, oriunda de Telavive, mobilizada para participar nas operações de retirada israelita da Faixa de Gaza. A jovem estava naturalmente apreensiva com o serviço que lhe seria atribuído e, não sendo de muitas palavras, acabou por ripostar às perguntas da repórter: “Mas o que é que interessa isto a Portugal? Eu sinceramente não me interessa nada o que se passa em Portugal. Nada mesmo.” (Público, 15/8/2005). A sobranceria da resposta denuncia a situação de excepção em que vive o seu país. O protagonismo de que goza Israel, artificialmente mantido pelos E.U.A, permite-lhe viver isolado da comunidade internacional.


Mas, se os israelitas não precisam de se preocupar com o resto do mundo, o resto do mundo não tem outra hipótese senão preocupar-se com Israel e com o conflito que alimenta, desde a sua fundação, com os palestinianos e países árabes da região. As repercussões deste conflito, são sentidas, infelizmente, a ferro e fogo, nos atentados bombistas de Bali, Istambul, Casablanca, Londres, Madrid ou Nova York. Conflito que não só está longe do fim, como foi agravado com as aventuras militares americanas no Afeganistão e no Iraque. E isto apesar de um dos principais alibis americanos para a invasão do Iraque ter sido a promessa da resolução do conflito israelo-palestiniano – “o caminho de Jerusalém passa por Bagdad”, diziam os think tanks neo-conservadores. Vê-se claramente o enorme embuste desta promessa e, pelo contrário, o agravamento exponencial do sentimento de injustiça e humilhação das populações afectadas, criando o caldo necessário para o alastramento do extremismo religioso e de actos de desespero de que todos os terrorismos se alimentam e de cuja violência todos, em qualquer parte do mundo, podem vir a sofrer.


É um facto que, pela primeira vez, Israel desmantela colonatos e retira a sua população de territórios ocupados (a retirada do Sinai há 23 anos foi feita num contexto inteiramente diferente, em troca da paz com o Egipto, e a recente retirada do Sul do Líbano foi exclusivamente militar). Mas também é verdade que isso significa, antes de mais, o emendar – tímido e claramente insuficiente – de graves atropelos ao direito internacional e aos direitos dos palestinianos que aí viviam antes da ocupação, e a pura e simples reposição da legalidade. Não será, aliás, suspeito que o principal impulsionador da implantação dos colonatos nos territórios ocupados por Israel após a Guerra dos Seis Dias em 1967, Ariel Sharon – aquele a quem, nos últimos 40 anos, chamam “bulldozer” – seja o mesmo que agora preconiza esta retirada? Estamos a falar do “falcão” militar que promoveu a invasão do Líbano em 1982 e que poucos meses depois, foi cúmplice no massacre dos campos de refugiados palestinianos de Sabra e Shatila, que provocou milhares de mortos. O que faz, então, correr o primeiro-ministro israelita? O que verdadeiramente Sharon visa com este gesto de “boa vontade” em Gaza, é preservar e alargar os colonatos na Cisjordânia (a anexação prevista é de mais de metade da Cisjordânia, cerca de 58%), muito mais importantes e decisivos para a construção do Eretz Israel – o Grande Israel –, possibilitando a criação de um Estado judaico do Mar Mediterrâneo até ao rio Jordão.


Ariel Sharon vai alegar a gigantesca dificuldade que teve de enfrentar nesta retirada, justificando assim a inviabilidade de futuras retiradas: para evacuar 8500 pessoas de 25 colonatos (4 no Norte da Cisjordânia e 21 na Faixa de Gaza), o governo israelita destacou cerca de 55.000 militares, num esforço orçamental de 1,6 mil milhões de euros, não contabilizando os mais de 400 mil euros que cada família de colonos receberá como indemnização (Visão, 11/8/2005). Mas verdadeiramente não seria muito mais dispendiosa a segurança de 8500 israelitas no meio de milhão e meio de palestinianos e a manutenção de uma importante força militar para fazer frente à prolongada e desgastante Intifada palestiniana? O próprio Sharon já garantiu que “o programa de colonização é sério e vai continuar”.


Esta retirada de Gaza está longe, por isso, de ser um acto de altruísmo. Trata-se, pelo contrário, de uma autêntica moeda de troca. Significará, isso sim, o enterro definitivo do processo de paz com os palestinianos e armadilhará definitivamente o sonho da construção de uma Palestina independente pois, a partir daqui, Israel considera o seu papel cumprido e as exigências da comunidade internacional satisfeitas. É que na Cisjordânia vivem mais de 250 mil colonos, sem contar com a população judia de Jerusalém Oriental. Os desgarrados enclaves palestinianos que aí permanecem, ainda assim totalmente controlados pelo exército israelita, são o máximo que Israel está pronto a tolerar. Nestas condições, um verdadeiro Estado Palestiniano torna-se inviável.


Como assinala Meron Rapoport, jornalista do diário Haaretz de Telavive, o objectivo é “retirar de Gaza para conservar a Cisjordânia” (Le Monde Diplomatique, edição portuguesa, Agosto de 2005). E este objectivo é perfeitamente assumido. Cita, a propósito, as declarações de um dos mais influentes conselheiros de Ariel Sharon, Dov Weisglass: “O que nós fizemos visa congelar o processo de negociação. Ao congelarmos o processo de negociação, impedimos a criação de um Estado palestiniano e a discussão sobre a questão dos refugiados”, concluindo com uma transparência cristalina, “A saída de Gaza contém uma apropriada dose de formol, a necessária para que não haja processo de negociação com os palestinianos.” Do seu rancho de Crawford, no Texas, o Presidente norte-americano George W. Bush aplaude a “iniciativa audaz” do primeiro-ministro Sharon, desejoso de notícias positivas que compensem o atoleiro iraquiano em que os americanos estão envolvidos.


Na reportagem do Público a que fizemos referência, são ouvidos três trabalhadores da construção civil tailandeses – trabalhadores asiáticos que, na sequência da segunda Intifada, substituiram os palestinianos – que, no colonato de Neveh Dekalim (o maior de Gaza, construído em 1983 e com 2500 habitantes) observam os preparativos para a retirada. Quando questionados sobre o que acham da situação, não hesitam em responder: “Israel faz o que a América diz: a América diz para sair, Israel sai.”


 Israel é um Estado confessional, tal como a Arábia Saudita. Tem um programa nuclear secreto à revelia dos acordos e inspecções internacionais, como a Coreia do Norte. Viola constantemente os mais elementares direitos humanos, perseguindo, torturando e matando, como qualquer ditadura sul-americana. Oprime a população palestiniana sob o seu domínio, expropriando as suas terras e os seus bens, deslocalizando-a e guetizando-a, à semelhança do odioso regime do apartheid sul-africano. Despreza a opinião pública mundial, o Tribunal Internacional de Haia – que solicitou o desmantelamento de um muro de 9 metros de altura que irá cercar mais de 100 quilómetros quadrados de terras palestinianas – e as inúmeras resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, condenando as sucessivas anexações de territórios e violações das suas obrigações. Israel mantêm fronteiras que não são reconhecidas internacionalmente, como qualquer Estado pária. Porque se permite a Israel aquilo que se nega aos outros países? Poderá o mundo continuar a tolerar que Israel se comporte como um grande colonato dos E.U.A no Médio Oriente?



publicado por albardeiro às 17:13
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Sexta-feira, 2 de Setembro de 2005
O paleio é … REFORMAR, reformar, reformar… e que tal, reformar a reforma!

A propósito da criação de uma “enésima” comissão para a Reforma Administrativa…


Numa fase de tantas inquietações quanto ao futuro e na qual as decisões políticas tendem a gerar muito mais dúvidas e resistências do que adesões, talvez seja oportuno lembrar que o país está hoje obrigado a uma complexa e delicada acção. Precisamos, por um lado, de assimilar o novo padrão de ordenamento das relações internacionais e entrar em sintonia com as grandes inovações tecnológicas deste início de milénio. Mas também precisamos, com determinação ainda maior, de ajustar as contas com nosso próprio passado de atraso, atavismo, pobreza e desequilíbrio. Estamos obrigados a ser modernos não só no plano económico da competitividade e da produtividade, mas sobretudo em termos de justiça social. É por isso que dependemos tanto do “encontro” de uma nova forma de Estado: em que seja possível um novo pacto social, uma nova institucional idade política, uma nova “eficiência” de intervenção pública e um novo sistema de protecção social. Sem isso, é impossível incorporar e simultaneamente desafiar a cultura deste nosso tempo, isto é, crescer economicamente, compensar as injustiças e desigualdades e regular um mercado e um capital que, exaltados pelos ventos do economicismo, da financeirização e da transnacionalização, parecem querer escapar de qualquer controlo ou planeamento.


Todavia, fica um alerta (preocupante): não chegaremos a uma nova forma de Estado se continuarmos apenas concentrados no lado fiscal, financeiro e instrumental da questão, deixando em segundo plano a política e as articulações Estado/sociedade. Do mesmo modo, não avançaremos (sequer nos termos da chamada reforma administrativa) se não colocarmos a questão dos recursos humanos no centro das nossas preocupações, se não inserirmos no Estado uma nova mentalidade e um novo tipo de servidor público. Sem isso, não daremos conta de uma época que insiste em explodir todas as cadeias formais e verdades estabelecidas e que depende sempre mais da criatividade e da capacidade de autodeterminação dos homens. Não se trata de reivindicar uma mera posição de princípio. È inegável que um novo padrão de trabalhador público se tornou inadiável, quer seja para que se possa abordar a complexidade inerente à actual fase histórica, quer seja para atender aos requisitos de uma reforma do Estado que exige ser mais do que um simples ajuste administrativo. Em síntese, é necessário e urgente converter o Estado num efectivo instrumento de desenvolvimento sustentável, de unificação e de promoção social.


O relacionamento crítico e autónomo com o mundo de hoje depende muito da difusão, no âmbito estatal, de uma nova perspectiva que seja inteligentemente: estratégica, cooperativa, democrática, participativa, solidária… Não depende só de «tecnologias gerenciais» ou de sofisticados planos reformadores, mas de inteligência, importa dizer, de pessoas capazes de operar na ténue fronteira entre técnica e política. Sem isso, como é que é possível “domesticar”, humanizar e dirigir os impetuosos processos de mudança com que nos defrontamos? Como é que é possível promover a unificação de uma sociedade cujos interesses parecem desagregados e fragmentados, sempre mais repletos de privações e contestações, sempre mais mobilizados em favor da afirmação de direitos? Como é que é possível enfrentar e decifrar os nexos contraditórios e explosivos de um processo societal cada vez mais «imprevisível»? Como é que é possível impulsionar as capacidades comunitárias, a criatividade «espontânea» dos homens e mulheres mobilizados pela reprodução do seu quotidiano, incorporando-a aos esforços de desenvolvimento e de melhoria das condições de vida de toda a população?


Como, como…? Simples! Os servidores públicos e particularmente os gestores sociais estão perante desafios e exigências claras. Eles não podem, antes de tudo, manter-se amarrados aos limites da divisão intelectual do trabalho e da organização burocrática: precisam de se converter em «líderes», especialistas tecnopolíticos e não burocratas (nada de tecnocratas), capacitados para pesquisar, negociar, aproximar pessoas e interesses, planear, executar e avaliar. Devem transformar-se em profissionais competentes para pensar a crise, os movimentos da economia, da cultura, minhas senhoras e meus senhores… da cultura e da política, a dinâmica dos grupos, dos indivíduos e da comunidade. Esse novo servidor precisa de compreender que não se trata só de saber administrar ou «gerenciar», mas de actuar como elemento dinâmico do acto e função de governar, pois os nexos entre globalização, complexidade e questão social fizeram do governo uma operação difícil demais, impossível de ser enfrentada com recursos políticos e administrativos concebidos como coisas separadas (o que sinceramente não vislumbro nos actuais agentes políticos… muito menos nos “jotas” que campeiam em todos os espectros políticos). Vivemos, afinal, uma época em que os governantes (isto é, os homens e as mulheres eleitos para governar, mas também os gestores e os servidores administrativos) estão expostos perante um campo decisório muito mais complexo e turbulento. Hoje, mais do que nunca, só governa quem conhece, selecciona informações, planeia, decide e sabe implementar decisões.


Obviamente: os recursos humanos seguramente não podem tudo. Eles dependem de muitas outras coisas: do sistema político, dos governos, da reforma do Estado, da determinação dos cidadãos. Sem eles, porém, há poucas chances de vencer uma situação que não é «racionalmente» controlável, mas é essencialmente política e, como tal, não se deixa isolar dos interesses e das paixões humanas. No mínimo por isso, para além de se culpabilizar os servidores públicos por todos os problemas e pela ineficácia do Estado, devíamos estar todos empenhados em “solicitar” iniciativas credíveis dedicadas a treinar e a qualificar os servidores públicos, com particular ênfase para as nossas escolas e universidades, que integram, afinal, aquele espaço institucional onde tudo começa e pode ser impulsionado.


O DESASSOMBRAMENTO CONTINUARÁ com a ajuda das leituras da ponte Atlântica, entre outros, de Milton Lahuerta, Marco Aurélio Nogueira, Fernando de La Cuadra, Alessia Ansaloni, Leandro Konder, Guido Liguori, etc.



publicado por albardeiro às 18:39
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