O DESASSOMBRAMENTO CONTINUA com a ajuda das leituras da ponte Atlântica, entre outros, de Milton Lahuerta, Marco Aurélio Nogueira, Fernando de La Cuadra, Alessia Ansaloni, Leandro Konder, Guido Liguori, etc.
Atenção: até prova em contrário a candidatura mantém-se de pé! (VER O ÚLTIMO TEXTO). No entanto, também me parece oportuno publicitar este texto.
O pior pesadelo de um governo (dito) de esquerda é ter problemas com a própria esquerda. Um governo (dito) de esquerda que não consegue manter uma sintonia com os diversos segmentos da esquerda e dá azo a uma contestação social (embora, é certo, um pouco corporativa... mas se os corpos sociais existem!) perde capacidade de acção política e social e pode ficar (irremediavelmente) incapacitado para pôr em prática os seus planos e programas. Passa a ter de dissipar, para além das energias, parte do seu tempo em negociações com aqueles que ao menos em tese são seus afeiçoados, carne da sua carne, refreando os embates bem mais estratégicos com aliados e adversários. Além do mais, e isto todos nós sabemos, o atrito consigo próprio põe a nu as suas entranhas. Mostra o lado mais ignóbil do jogo, o menos elegante, algo que seguramente contrasta a imagem positiva que a esquerda civilizada justamente se orgulha de carregar e faz absoluta questão de exibir. Mas alguns dirão: O que é que se espera do PS, enquanto governo! Eles sempre foram isso... uns pasmados. O Poder tolhe-os e encandeia-os. Depois só sai despautério!
Quando as divergências se acumulam e se explicitam no interior de um movimento, dizemos que uma luta interna se instaurou. Tal fenómeno integra a rotina das organizações políticas e é tanto mais inofensivo quanto mais se mantém próxima de um patamar mínimo, suportável, no qual as diferenças se manifestam no plano dos princípios e das ideias. Ultrapassado esse patamar, a luta interna converte-se numa guerra por posições e pela posse de recursos de poder, na qual princípios e ideias passam a valer pouquíssimo (veja-se o que se está a passar com a despropositada candidatura de Soares; nada mais que um marcar de terreno da facção soarista no novo aparelhismo socrático do PS. Com o PSD passa-se o mesmo, com agravante dos caciques levarem vantagem sobre os barões!). Mergulha-se numa fase de retaliações e golpes baixos, exclusões e ofensas recíprocas, ameaças e acusações de todos contra todos. Vêm à tona aspectos incómodos e desagradáveis, rememorações de atitudes e posicionamentos passados, facetas ocultas e tropeços, num festival de contradições que turvam e embaçam a fisionomia actual dos protagonistas envolvidos. Amplificados pelos meios de comunicação, pela própria dinâmica do embate e pela rápida socialização das informações, os dossiês produzidos pela luta interna fazem com que não se saiba mais quem tem razão, quem exagera e quem falta com a verdade.
Há muitas formas de se viver num clima de luta interna. Pode-se tentar manter uma postura zen e, valendo-se da reiteração de princípios éticos superiores, manter abertas as portas do diálogo e proteger os mais desalinhados e indefesos. Pode-se, também, cair para o extremo oposto e maximizar os recursos de poder, apelando-se para a obrigação que todo o militante teria de apoiar e defender o governo e o seu candidato oficial. É o procedimento seguido tipicamente pelos que compõem a maioria na direcção do partido, ou pelos que falam em nome do governo. Há, ainda, os que procuram fazer com que as ideias resistam e prevaleçam sobre a mediocridade, batendo-se pela discussão doutrinária, pela convocação das melhores tradições teóricas, e assim por diante.
Num certo ponto da luta interna, os protagonistas percebem que a tensão e a divisão podem abespinhar-se no governo e, de algum modo, acelerar o seu desgaste ou levar a uma crise institucional (e este é que é, embora não o pareça neste momento, o cerne da questão). Nesse momento, alguém terá de recuar, rever posições, alterar decisões. A maioria que está no poder pode jogar um papel decisivo aqui, especialmente porque tem o mando para tanto e porque é contra ela que a luta interna se dirige. O seu raio de manobra, porém, costuma ser reduzido, sobretudo quando se vive em contextos de crise ou de governabilidade difícil. Arma-se, então, um dos dois cenários de salvação: preserve-se o líder ou desencante-se um Messias. Matemo-nos todos, mas não deixemos que a imagem do Homem fique manchada demais, a ponto de inviabilizá-lo como chefe da Nação ou de liderança popular.
Noutros tempos foi uma saída inteligente, agora mais do que nunca tem um senão. É que a concentração de energias positivas numa situação deste tipo pode produzir uma hipertrofia da liderança, uma espécie de messianismo inconsciente que não só complicará as relações do governo com as instituições políticas do país, como também ajudará a que se criem ainda mais expectativas na população. Nesse último caso, ter-se-á uma ponte para o cesarismo... nesta matéria, a realidade é mais antiga que a própria ideia - e olhem que eles andam por aí! Já agora deixem que lhes diga, recorrendo ao sempre actual Gramsci que nestas coisas de poder e hegemonia é mais assertivo que Maquiavel ou Montesquieu: é bem verdade que se pode admitir que há um cesarismo progressivo, que actua para emancipar as massas, e um cesarismo regressivo, que se dedica a preservá-las na condição de subalternidade e que acaba por deixar um deserto atrás de si. Pode-se sempre lutar para que o primeiro prevaleça e produza todos os seus efeitos positivos. Mas a linha que o separa do cesarismo regressivo é sempre ténue, e a nítida distinção entre um e outro depende de muitas e complexas circunstâncias (materiais, culturais e políticas). A História quando tem repetições é sempre sob a forma de farsa. É um risco, portanto, que certamente não vale a pena correr. O que nós precisamos é de políticos e políticas que nos respeitem e não de nababos com a sua tralha.
Continuamos em sintonia com o bloguitica.
PODE O JORNAL «PÚBLICO» SFF ESCLARECER COM QUEM É QUE FÁTIMA FELGUEIRAS MANTEVE CONTACTOS NO SECRETARIADO NACIONAL DO PS? QUANDO É QUE ESSES CONTACTOS TIVERAM LUGAR? QUEM É QUE INFORMOU JAIME GAMA PREVIAMENTE DA LIBERTAÇÃO DE FÁTIMA FELGUEIRAS?
Aguardamos "serenamente" os esclarecimentos