Usar imigrantes pobres para compor o cenário de uma campanha é muito, muito baixo, mesmo para José Sócrates. É mau demais para ser verdade . Ir aos subúrbios mais pobres de Lisboa para sacar uns apoiantes em troca de uma bifanas é um acto nojento. Não tem outro nome: é nojento, vil, baixo, porco. Estas pessoas estão ali, porque estão à espera de sacos de comida. É isto a tal sensibilidade social do PS e de Sócrates? Ir ao Martim Moniz sacar uns tipos para encher o mini-estádio que Sócrates usa ao longo do país é uma acção nojenta. Estas pessoas não sabem português, mas seguem o PS, porque, ora essa, o PS dá comidinha e passeio.
Isto é que é a famosa sensibilidade social do PS? É isto? Sensibilidade social é usar os mais pobres dos pobres para compor o marketing? Isto, meus amigos, é nojento. Isto ultrapassa vários níveis da decência. Isto não tem nada que ver com diferenças ideológicas. Isto tem que ver com um mínimo de moral, um mínimo de decência. E, ao fazer isto, o PS desceu muito, muito baixo. Isto nem sequer é amoral, nem sequer é uma daquelas amoralidade maquiavélicas típicas da acção política. Não. Isto é imoral, isto é uma imoralidade completa. Isto é nojento. Eu compreendo as dificuldades que o PS, coitadinho, está a enfrentar na hora de encontrar pessoas para compor a sua máquina-eleitoral-para-jornalista-de-TV-ver. Mas isso não legitima autocarros com centenas de imigrantes pobres retirados ali do Martim Moniz ou das manchas de desemprego de Massamá e afins. Isto passa todos os limites.
O PS errou ideologicamente na política económica. Uma coisa normal. O PS errou politicamente na gestão desse erro económico. Algo um pouco mais grave, mas, ainda assim, dentro do aceitável. Depois, o PS entrou numa espiral amoral de mentiras e omissões no sentido de ocultar os seus erros anteriores. Aliás, tem sido esse o estado do PS desde 2009: a amoralidade, algo que já está fora do aceitável. E, agora, em forma de cereja no topo do bolo, encontramos estas acções de campanha que só podem ser classificadas de imorais.
Os últimos acontecimentos demonstram que para o FMI, corrijo, para o ex-diretor-geral desta organização, "tudo o que é buraco é trincheira". Arrisco-me a dizer que o único local de onde o FMI - Fundo Monetário Internacional - emana real instabilidade é mesmo do interior das pantalones do sr. ex-diretor Dominique Strauss-Kahn. E se o primeiro e enorme buraco do mês a ser violentado pelo FMI foi um orifício chamado Portugal, um país com aproximadamente 10 milhões de habitantes, o ex-diretor máximo desta organização tratou de fazer o mesmo a uma empregada de hotel em Nova Iorque.
Alegadamente este senhor leva demasiado a sério esta forma de agir que consegue manietar e violentar quem cai nas garras desta seita que funciona um bocado como uma "empresa" de agiotagem à escola global. Pacotes diferentes. Medidas diferentes. Violações diferentes. Ambas não consentidas ou autorizadas (pelo menos por quem sofre as medidas na pele) e resultados diferentes. Como similaridade nos dois casos ficam as vítimas inocentes pelo meio. Um país da Europa e a sua população deste lado do Atlântico. Uma emigrante empregada de hotel residente no Bronx do outro.
Obviamente que o caso americano é um caso de polícia, o português é também uma emergência, mas de outro tipo. Em Portugal, como se viu recentemente num caso em que os juízes deviam ser sujeitos a análise psiquiátrica com possibilidade de internamento, provavelmente este senhor teria apanhado o avião e ia à vidinha dele. Nos EUA, as coisas são um bocadinho diferentes.
Curiosamente o sr. ex-diretor acabou "hospedado" na mesma prisão nova-iorquina onde reside o português Renato Seabra desde que este, igualmente num alegado crime sexual praticado num hotel, acabou detido e aguarda julgamento pelo homicídio de Carlos Castro. Será ótimo, pois ficamos com um representante oficial junto do homem forte da organização que está a financiar Portugal. Querem melhor? Nem por medida. Parece-me uma janela de oportunidade que não deve ser desperdiçada pelo Estado português. E quem sabe uma janela de oportunidade para Renato Seabra fazer o que alegadamente já fez uma vez. O que para mim, seria plenamente justificado a provar-se a culpabilidade do sr. ex-diretor do FMI neste crime de que é acusado. Justiça divina. [Tiago Mesquita (www.expresso.pt)]
José Sócrates ficará na história como o governante que levou Portugal à condição de terceiro país com maior índice de desigualdade social da Europa (só acima da Letónia e Lituânia), com os 5% mais ricos a ganharem 18 vezes mais do que os 5% mais pobres e 75% dos portugueses a auferirem até cerca de mil euros por mês, sendo que 25% ganham até quinhentos e cinquenta euros (considera-se que o limiar de pobreza para um agregado familiar constituído por dois adultos e duas crianças se situa nos 870 euros/mês). Quem o diz é o economista Carlos Farinha Rodrigues, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão, no estudo Desigualdades em Portugal encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Este trabalho, cujos dados – sublinhe-se – se referem a 2008, ainda na antecâmara da crise internacional (como será agora!?), revela também que ao nível dos 10% de portugueses com ordenados mais altos se registou uma subida de 25% no valor dos vencimentos, sendo que nos 1% dos melhor pagos, o aumenta é já de 49% e que na fatia máxima de remunerações (0,1% da população) o acréscimo chega aos 70%, o que significa que quanto mais se ganha, maior é o aumento. Um absurdo, portanto!
A bem dizer José Sócrates nem ficará na história, tal a enormidade dos problemas criados e a insignificância da personagem. No futuro falar-se-á, isso sim, de um tempo que alguém já apelidou de “fartar vilanagem” em que a cartilha neo-liberal atingiu fortemente Portugal, pela mão dos governos nacionais ou do Fundo Monetário Internacional e dos “amigos” da União Europeia, verdadeiros responsáveis pela crise que atravessamos e cujo diagnóstico é por demais conhecido: destruição do aparelho produtivo nacional, deslocalizações selvagens, precariedade no trabalho e desemprego galopante; má gestão e desperdício do Estado, das empresas públicas e das famosas parcerias público-privadas que, através de contratos leoninos, foram o viveiro de todo o género de compadrios e alimentaram todo o tipo de esquemas que delapidaram o património comum; proliferação de institutos e organismos parasitas e desnecessários destinados a sustentar clientelas partidárias; derrapagem financeira, muitas vezes de forma grosseira, da quase totalidade das obras públicas, ao serviço de inconfessáveis – mas, por vezes, desvendados – interesses privados; investimentos desastrosos do Estado em instituições bancárias arruinadas ou em projectos megalómanos (estádios, autoestradas, submarinos, TGV’s, aeroportos) ; não taxação das operações bancárias, das transações bolsistas, dos lucros das empresas offshore, dos fundos de pensões, das seguradoras, de todo o universo da especulação financeira que, como se sabe, movimenta verbas e gera lucros muito superiores aos da economia real (isto é, produtiva); fraude e evasão fiscal dos mais poderosos, que atingiram níveis nunca antes vistos e que se cifraram em qualquer coisa como 10 mil milhões de euros em 2009 (um ano após o rebentar da crise internacional); ordenados fabulosos de toda uma coorte de assessores e consultores políticos, de gestores públicos e chefias intermédias, de boys, amigos e afilhados. Foi para tudo isto que foram canalizados os recursos que agora faltam e não para o pagamento de salários mínimos, de pensões miseráveis ou para os programas de proteção social que presentemente se querem reduzir ou eliminar.
É, de facto, um palmarés brilhante. Por isso, até o insuspeito de tendências esquerdistas, José Pacheco Pereira, faz um prognóstico tão pessimista sobre aquilo que nos vai cair em cima: “para alguns, nada; para muitos, maiores dificuldades; para muitos, pobreza; e para muitos mais, maior pobreza.” (Sábado, 5/5/2011).
Hugo Fernandez