Albardas e Alforges... nunca vi nada assim! Minto... já vi!
Segunda-feira, 1 de Janeiro de 2007
Iraque: TUDO MENOS UM MÁRTIR!

O que é que o mundo podia esperar de um regime resultante de uma Guerra imposta por outro regime e que se deu ao luxo de baptizar essa operação de “choque e pavor”!! Lembram-se? O que esperar de governantes deste calibre? A guerra que Bush desencadeou contra o Iraque tem sido um episódio que cobriu de vergonha e maus prenúncios todo o início do século XXI. Já foram consumidos rios de tinta para analisar as “razões de Estado” que teriam levado a maior nação do planeta, incontestável no seu poderio bélico e na sua pujança económica, a lançar-se “numa escala nunca antes vista” sobre um povo miserável em nome do mal que um regime político estaria a causar à humanidade e à segurança do mundo. Por incrível que pareça, ainda não se conseguiu entender tudo com clareza, tamanha tem sido a insensatez. Como sabemos, houve “gente” que se pôs a falar em “guerra justa” (a troco de quê?) ou a justificar os actos militares como fazendo parte de alguma “necessidade estratégica” ou das responsabilidades de um país-império obrigado a agir como senhor do universo. Como sabemos, ainda, houve/há muito pouco de justo, justificável ou compreensível em tudo isto.


A guerra que Bush e os seus apaniguados despoletaram foi um monumental erro político. Antes de tudo porque desapossou os EUA de uma política externa coerente e os levou ao isolamento e à desmoralização (apesar de tudo, as últimas eleições já foram um sinal para emendar o erro!). Bush, obrigou a América a romper com os seus aliados, a agredir a opinião pública mundial e a arrogar com o ónus de ter sabotado e humilhado a ONU, agudizando uma crise que a coloca numa situação irreversível. Depois de tudo o que tem acontecido, nomeadamente os últimos acontecimentos no Iraque, como ficará a diplomacia americana de agora em diante? Para além das causas de toda esta situação, a doutrina Bush não se tem mostrado à altura das exigências históricas do período actual. Tem sido provinciana, enfatuada e arrogante, num contexto, como sabemos, mais cosmopolita e desejoso de entendimento. Claro que tudo isto, está longe de converter os EUA em factor de paz e construção; pelo contrário, tem sido um actor unilateral, que só se afirma à base da intimidação e destruição, parecendo almejar um mundo onde não existam diálogos e interacções, mas apenas hierarquias e submissões, onde a lógica implacável do mercado se combine com a lógica perversa do império, onde “a guerra leva mercados à euforia”, como “gostam” de afirmar os média.


As manifestações de repúdio contra o “assassinato” (ordenado por um tribunal!!!) de Sadam que encheram ruas e praças do mundo árabe, foram um eloquente sinal de que a guerra que Bush foi/é responsável, parece destinada a ampliar o fosso que separa os norte-americanos de aliados preciosos, um fosso que só já não é maior porque a cultura americana, felizmente, mau grado a demência dos actuais actores políticos, é rica demais e está presente demais na vida dos povos, mediante ícones e valores que se tornaram uma espécie de “segunda natureza” em todos os continentes.


Por mais acções, reacções, “globalizações alternativas”, uma coisa é já incontornável: o mundo assumiu a forma de um império e não pode viver sem o protagonismo norte-americano, que é a sua principal potência. Mas atenção, também é insuportável conviver com protagonismos asnáticos e obstinados. Aqui há uns tempos não muito distantes, não era fácil imaginar em que mundo se viveria se depois do Iraque os EUA passassem a determinar que regimes políticos eram/são bons ou convenientes/vantajosos, que governos mereciam “sobreviver”, que líderes podiam ser acolhidos ou consentidos, quais deles seriam legítimos, a quem precisariam de dar sumiço, num absoluto desprezo pelas instituições e tradições de uma sociedade, pelas suas escolhas políticas e maneiras de ver a vida.


Estaremos perante um mundo regressivo, no qual só se pode respirar um único ar, se falará uma só língua e se terá apenas um código de conduta. Claro que um cenário assim, só tem um nome: totalitarismo. Totalitarismo radicalizado, onde não haverá apenas disciplina e obediência, mas acima de tudo uma engrenagem sofisticada de controlos biopolíticos e ideológicos. No fundo, um mundo movido a choque e pavor. Este seria um mundo tão absurdo e paradoxal que não é razoável imaginar que venha a produzir-se. A história dos impérios não é feita apenas de louros, glórias e vitórias, mas também de decadência, fracasso e degradação. Por trás dos mortos de Bagdad não há como antever, ainda, nenhum oásis. Mas a história navega por rotas irregulares e de ventos instáveis. O atoleiro do Iraque talvez tenha contribuído para arrepiar caminho!


... com a ajuda das leituras da ponte Atlântica, entre outros, de Milton Lahuerta, Marco Aurélio Nogueira, Fernando de La Cuadra, Alessia Ansaloni, Leandro Konder, Guido Liguori, etc



publicado por albardeiro às 19:57
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